Esse texto é um oferecimento do Indico Filmes e Séries e é especial para aquelas pessoas que adoram dedicar um pouquinho do seu tempo para o entretenimento, mas querem ter certeza de que não vão cair em uma cilada e assistir o filme ou a série errado para o seu perfil.

A gente sabe que gosto é algo muito pessoal e merece ser respeitado, então não seria legal contar com alguma ajudinha de quem entende do assunto na hora de escolher o que ver? Pois então, a partir de hoje, você vai encontrar aqui toda semana uma indicação amiga, que além de trazer breves informações sobre a produção, te dá os principais motivos pra quebrar com a famosa dúvida do “será que vale a pena ver?”. Com as dicas da Rafa Gomes não tem erro!


Nem todo herói usa capa. E aqui, ele não apenas é desprovido de uma, com também é o tipo de herói que poderia ser considerado desarmado e até mesmo “desprevenido”. Independente disso, nada impediu que sua luta fosse pra frente e ela culminou em uma das transformações mais divisoras de águas do mundo.

Esse herói pode não estar mais aqui, mas aquela luta iniciada lá atrás continua firme forte. E seu nome? Sempre será lembrado como aquele que teve um sonho e fez o mundo todo sonhar junto até hoje.

Não sabe de quem eu tô falando? Chega de mistério, desse a barrinha! Bora! 😀

Título: ‘Selma: Uma Luta pela Igualdade’
Ano: 2014
Elenco: David Oyelowo, Oprah Winfrey, Common, Carmen Ejogo
Direção: Ava DuVernay


Sinopse relâmpago: A história da luta de Martin Luther King Jr. para garantir o direito de voto dos afrodescendentes – uma campanha perigosa e aterrorizante que culminou na marcha épica de Selma a Montgomery, Alabama, e que estimulou a opinião pública norte-americana e convenceu o presidente Johnson a implementar a Lei dos Direitos de Voto em 1965. Em 2015 é comemorado o 50o. aniversário deste momento crucial no Movimento dos Direitos Civis.


Vale a pena por que: “Selma” nos leva a percorrer pelos cantos da alma de não apenas um homem, mas de uma nação inteira de lutadores. Todos conhecem a luta pelos direitos civis dos negros nos Estados Unidos e todos sabem muito bem quem encabeçou todo o árduo triunfo. Mas Martin Luther King não liderou apenas um movimento, mas sim uma eterna busca pela igualdade em todos os âmbitos e é por isso que a produção leva o nome de uma cidade. Pois não se trata apenas do suor e sangue de um, mas sim de todos.

Os fatos relatados pela cineasta Ava DuVernay estão focados na pós-vitória do Nobel da Paz de Martin em 1964, mais precisamente na busca pelo direito ao voto por parte dos negros e o protesto que coroaria a ausência de atitude de Washington, especificamente do presidente Lyndon Johnson. O trajeto da marcha seria de Selma a Montgomery, mas caminhar essa extensão de quilômetros daria mais trabalho do que reunir um grupo de apátridas sedentos por justiça.

Com a história focada na constante luta do pastor evangélico em cumprir uma missão que não apenas era sua, mas sim vinda de Deus (como o próprio enfatizava em seus discursos), todo o enredo de Selma se encaixa meticulosamente em pequenos papéis memoráveis como o da também produtora Oprah, à medida que também nos introduz outras figuras marcantes do movimento que possuem apelo popular menor comparado ao líder, como James Bevel (muito bem interpretado pelo rapper Common), Hosea Williams (Wendell Pierce) e John Lewis (Stephen James). O grande destaque é genuinamente David Oyelowo. Não bastassem as feições parecidas, o britânico ainda traz o mesmo tom de voz do pastor, além de fazer com naturalidade o timbre único do ativista, que inspirava confiança, determinação e cuidado em seus diálogos.

Ava não faz o clássico sugarcoat em “Selma”, medindo as palavras, adoçando o filme com coisas e minimizando os danos. Tal como “Lincoln” de Steven Spielberg, “Selma” traz aos nossos olhos essa perspectiva imersiva. Ela nos leva para dentro da sala oval, onde a arrogância, o preconceito enraizado e a politicagem permitem que ataques a negros pacíficos perpetuem.  Ao trazer a verdade brutal diante dos olhos do público, a cineasta afro-americana deixa as reais motivações políticas que garantiram os direitos civis.

Ainda que “Selma” tenha sido ignorado pelos próprios colegas de profissão (a comissão do Oscar é composta por cineastas, roteiristas, atores e produtores), a mensagem rasgada diante das telas enfatiza a ausência do medo de um povo forçado a se esconder. O filme também quebra o FBI e seu fundador, o racista J. Edgar Hoover, que grampearam e monitoraram todos os passos de Martin Luther King, a ponto de lhe enviar uma carta clamando ao pastor que cometesse suicídio.

As agressões televisionadas de manifestantes pacíficos, os horrores das Leis de Jim Crow e a segregação tratada como uma briga pessoal e não nacional, mostram também que os Estados Unidos ainda têm um longo caminho a trilhar em direção a uma sociedade igualitária. “Selma” prova que o trabalho iniciado por Martin não termina com a morte do líder, mas se imortaliza com a busca eterna por um país onde a polícia não mais repreenda um povo apenas pela sua cor de pele.

Curiosidades: “Selma” reavivou em 2015 o debate sobre porque uma produção tão fiel e bem feita fora ignorada pela Academia, recebendo apenas duas indicações ao Oscar (Melhor Filme e Melhor Canção Original por “Glory”, na qual venceu).

De acordo com uma pesquisa de 2012 feita pelo The Los Angeles Times, 91% dos diretores votantes da Academia são homens, sendo que destes, 90% são brancos. A ausência de representantes do sexo feminino e que ainda sejam negras aponta ser um dos maiores impasses que Ava enfrentou para ser indicada.

Estranhamente, o filme esteve entre os oito na categoria de Melhor Filme, mas não acompanha o ritual frequente que outras produções já fizeram, que é pelo menos estar presente nas categorias de Melhor Ator e Melhor Diretor do Oscar. David foi erroneamente ignorado pela premiação, que há seis anos consecutivos sempre indicava um ator negro para Melhor Ator.