Esse texto é um oferecimento do Indico Filmes e Séries e é especial para aquelas pessoas que adoram dedicar um pouquinho do seu tempo para o entretenimento, mas querem ter certeza de que não vão cair em uma cilada e assistir o filme ou a série errado para o seu perfil.

A gente sabe que gosto é algo muito pessoal e merece ser respeitado, então não seria legal contar com alguma ajudinha de quem entende do assunto na hora de escolher o que ver? Pois então, a partir de hoje, você vai encontrar aqui toda semana uma indicação amiga, que além de trazer breves informações sobre a produção, te dá os principais motivos pra quebrar com a famosa dúvida do “será que vale a pena ver?”. Com as dicas da Rafa Gomes não tem erro!


Tem certas coisas que redefinem nossas vidas. Tipo como aconteceu com aquele bebê quando ele comeu bacon pela primeira vez na vida (veja aqui).  A experiência é tão transformadora, que parece que o mundo se abre diante dos seus olhos.

Profissional e pessoalmente falando, a dica dessa semana foi o bacon do bebê Easton pra mim! haha. Depois que eu a assisti pela primeira vez, eu tive uma nova perspectiva cultural e sobre escrita que mudou completamente a forma como eu assisto às séries de TV e filmes e como eu escrevo sobre eles.

De maneira impactante, meu contato com essa indicação veio sem qualquer precedente e anúncio prévio. Arrebatou meu coração logo nos primeiros episódios e em 2015 me deixou à deriva, no relento e na chuva, com um dos finais de série mais comentados até hoje!

Chega de mistério e desce a barrinha! 

Título: Mad Men
Período de transmissão: 2007 – 2015 
Elenco: Jon Hamm, Elisabeth Moss, Vincent Kartheiser, January Jones 
Emissora: AMC
Número de temporadas: 7
Todas as temporadas disponíveis na Netflix


Sinopse relâmpago: A série passa-se na década de 1960, inicialmente na agência de publicidade fictícia Sterling Cooper, localizada na Madison Avenue, em Nova York. O foco da série é o personagem Don Draper (Jon Hamm), diretor de criação da Sterling Cooper, bem como as pessoas que fazem parte de seu círculo social. A trama tem como foco a parte profissional das agências de publicidade e as vidas pessoais das personagens que trabalham nelas, à luz das mudanças sociais ocorridas nos Estados Unidos da época.


Vale a pena por que: A década de 60 carrega em si alguns dos feitos socioculturais mais emblemáticos. Como um período que se inicia a partir das frustações de seu antecessor e se encerra como a vanguarda dos próximos 10 anos, ela se solidificou por ser um período de transição mundial. Na tecnologia, na ciência, nos relacionamentos, na moda e no cotidiano, este é aquele período de descobertas, rupturas e quebras de paradigmas que ajudaram a moldar as décadas futuras. Ela é o presente, que se fez do passado e se projeta para o futuro. Ela é a consumação máxima do contemporâneo fora de seu tempo em ‘Mad Men’.

‘Mad Men’ não é uma série sobre publicidade, ainda que tanta gente insista em vê-la dessa forma. Ela usa a agitada e conceituada indústria da propaganda – que se fortalecia com um status corporativo e invejável – como uma espécie de background para falar sobre coisas muito mais profundas que a venda de ideias e conceitos. Ela faz dos homens localizados na Madison Avenue (aí está a origem do nome ‘Mad Men’), o espelho de uma sociedade complexa e perplexa, que ora está aquém e inerte ao mundo que a rodeia, ora o devora com voracidade.

Pela perspectiva do personagem Don Draper, brilhantemente vivido por Jon Hamm, e de sua equipe de publicitários, vemos 10 anos se passarem um a um, à medida que acompanhamos a confusa mente do protagonista. Como alguém que vive parte de sua vida anestesiado, sob uma existência maquiada aos moldes dos conceitos produzidos que vende ao consumidor, Don é uma fatia simbólica do que a década de 60 nos Estados Unidos trouxe ao mundo. Um retrato quase real, inspirado no prestigiado publicitário Draper Daniels, ele é um misto de frustração e idealismo. Alguém que se vende muito melhor do que de fato é.

E a contextualização de ‘Mad Men’ na década de 60 significa muito mais que trazer o conceito estilístico de uma era por sua beleza plástica. Marcada pela literatura beat de Jack Kerouac, a surf music, a ascensão dos Beatles e o início de uma fase psicodélica submersa em drogas como LSD e experiências sexuais desbravadoras, o período traz alguns dos fatos históricos que contribuíram para a redefinição dos parâmetros universais permanentemente. E com esse viés em que o velho se faz presente e anuncia um caótico futuro, a série produzida e escrita pelo talentoso Matthew Weiner (que escreveu episódios da clássica ‘Família Soprano’) é um retrato do que era, que nunca esteve tão atual como agora.

Essa narrativa de alinhar momentos históricos inseridos no contexto cotidiano, além do lirismo e da conotação simbólica na hora de abordar perdas, relacionamentos, rompimentos e até mesmo a morte, fez de ‘Mad Men’ um fenômeno artístico-cultural sem precedentes. Muito mais que dar vida a uma era que muitos de nós se quer chegamos perto de testemunhar, a produção se transfigurou para além das telas, conquistando uma coleção de roupas inspiradas no figurino para a conceituada loja Banana Republic, uma exposição permanente em Nova York, além de um banco feito a partir da sombra do protagonista, localizado em frente ao majestoso prédio da Time-Life na capital nova iorquina, local onde a trama se passa.

Os efeitos de ‘Mad Men’ redefiniram também os padrões das narrativas. Como um escritor que fugia do óbvio, Matthew Weiner faz inserções emocionais a partir da simbologia, além de associações com aspectos culturais da época (como a própria aparição de uma das personagens trajando uma famosa camiseta branca com uma estrela, usada em um ensaio icônico feito pela atriz Sharon Tate – brutalmente assassinada por Charles Manson em 1969). O jeito único de roteirizar episódios não apenas fez da série uma das mais elogiadas até hoje, como a transformou em uma referência. Graças à ‘Mad Men’, o canal AMC conseguiu se estabilizar e futuramente produzir a aclamada ‘Breaking Bad’.

Com uma estética tão particular, retirada das páginas de revistas de decoração sessentista, ‘Mad Men’ é um soco na boca do estômago ao questionar padrões e trazer o empondeiramento feminino diante do caos da mente masculina frequentemente confusa. Ao nos tomar pela mão, ela nos leva em uma alucinante epifania que perdurou por sete anos e se encerrou da forma mais poderosa e até hoje comentada na indústria do entretenimento. Assim como eras se encerram, ela também se foi, mas sua atemporalidade permanece inerente.

Curiosidades: ‘Mad Men’ foi unanimemente elogiada pela crítica especializada, por sua autenticidade histórica, atuações e direção. Ao longo de suas sete temporadas ela faturou 15 Emmy Awards (O Oscar da televisão), além de quatro Globos de Ouro.