Anos 80, onde alguns muitos, vários filmes de ficção científica, sejam eles experimentais ou não eram lançados. Era a época da imaginação no cinema, o homem já havia ido à lua, a cultura pop finalmente dava saltos gigantes. Estava pronta para ser majoritária na casa de todos. E o que mais o grande público queria ver a não ser desbravar o desconhecido? Se assombrar ou não com histórias mirabolantes que só os anos 80 proporcionavam. Esse texto tem a função de coagir você, caro amigo do Cinemagem, a conhecer o clássico cult de John Carpenter, The thing (1982), O Enigma de Outro Mundo no Brasil.

O suspense gelado do diretor de Halloween fracassou nas bilheterias americanas, em grande parte por competir, no mesmo ano, com outro filme de alienígenas com uma visão bem mais otimista, E.T. – O Extraterrestre antecedeu a estreia de The Thing em duas semanas. Fora isso, a crítica, na época do lançamento, não foi favorável ao novo trabalho de Carpenter, o diretor vinha de sucessos, e o longa não agradou aos padrões desejados, sendo assim, o filme se tornou um fracasso que impediu o cineasta de subir ao topo em Hollywood.

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The Thing é uma refilmagem de O monstro do Ártico, de 1951. Carpenter era apaixonado pela obra original, tinha grande apreço por todos os trabalhos do diretor Howard Hawks. E, embalado pelo orçamento gordo de 12 milhões e o prestigio que tinha adquirido na Universal, viu sua grande chance de emplacar uma obra que incomoda até hoje, mesmo com os efeitos práticos parecendo envelhecidos. Vale o destaque que o diretor considera seu trabalho favorito, mesmo ele sendo o “culpado” da sua carreira ter estacionado.

O filme começa sem muitas explicações, em um intrigante plano num vasto e assombrador deserto branco, o diretor brinca com o sadismo ao filme um helicóptero perseguindo um cachorro que corre desesperadamente fugindo de tiros, até encontrar a base americana no ártico. Tudo isso, se torna ainda mais misterioso e agourento com a música que embala a cena, a trilha de Morricone, cheia de pequenas notas, deixa o espectador encolhido na cadeira com os olhos arregalados e ouvidos bem atentos as sequências que virão.

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A caçado ao animal termina quando esse chega a essa base e acaba sendo acolhido pelos homens da estação estadunidense, que não interpretam o que é a verdadeira ameaça (ERA O CACHORRO!). A partir disso, a trama se desenrola, sempre de forma soturna, ajudada também pela paleta escura escolhida pelo diretor de fotografia, Dean Cundey. Os homens do exército, que têm Kurt Russel como principal, num papel de um sujeito badass, isolado, mas que impõe respeito desde as primeiras cenas, são pouco desenvolvidos, pode-se dizer que o diretor filma o essencial, a história se desenrola rápido, numa teia de acontecimentos que leva o espectador a ser realmente parte do filme, você se verá tentando descobrir o que é a ameaça e de onde ela está vindo.

O terror está no desconhecido, um monstro de outro planeta que se esconde na imensa solidão e tem a habilidade de copiar seres vivos. A morbidez e a falta de maiores recursos durante o inverno no ártico, fazem com que se crie um clima gutural de suspense, a dúvida de não saber de onde o mal virá gera a loucura no grupo, onde um desconfia do outro. Essa paranoia nos leva a uma cena digna de méritos, onde Kurt Russel tenta descobrir quem é humano. O longa trata também do da contaminação sem sintomas, tema que se tornaria tão comum nos anos 80, com o aparecimento da AIDS.

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A produção contou ainda com a genialidade de Rob Bottin, que na época tinha apenas 22 anos, sendo responsável pelos monstros e horror gore que fazem você virar o rosto ou ficar de estômago embrulhado.

The thing, ao lado de Alien, é certamente o filme mais pessimista ao abordar “seres de outro planeta”. O filme que dificilmente será esquecido, não pode passar batido na lista de quem quer conhecer mais do cinema. Aqui o trabalho é tão autoral e original que termina deixando a sensação que o fim de tudo está mais próximo que você imagina, e começará do lugar que você julga ser mais seguro. Vale ser visto.