Brasil. 1993. Ao som de Racionais MC, uma voz ecoa pelas vielas da favela. Uma voz cheia de sentimento, de boas vibrações, que atinge diretamente o coração daqueles que a ouvem. Uma voz carregada de esperança.
“Aqui é só mais um preto que fala”.
O filme se concentra na história de quatro amigos da periferia de Belo Horizonte: Jorge, Ezequiel, Roque e Brau. Todos pobres, moradores da favela e descriminados pela sociedade. Mas o mundo, e as próprias motivações de cada um, os levaram a superar estes problemas de formas diferentes.
Jorge, que protagoniza a trama, estuda em um colégio particular. Mas apenas porque os filhos dos funcionários recebem bolsas de estudo e sua mãe trabalha como zeladora. Ezequiel, o mais “certinho” de todos, trabalha como técnico de eletrodomésticos em uma loja. Roque desistiu de tentar ser alguém na vida e passou a se focar no hoje. Em aproveitar, já que a vida é muito curto. E Brau é o artista, aquele que vê música e poesia em tudo.
Tudo começa durante um jogo corriqueiro de futebol entre quatro amigos. Quando a bola rola para longe, um deles – Jorge – vai buscar. Nesse momento, acaba topando com os estúdios da Pampulha FM, uma enorme emissora de rádio que, apesar de ser muito famosa, não acrescentava nada para a vida do povo. Daí surge a ideia de criar uma rádio própria, focada na comunidade e também feita por ela. Surge, então, a Rádio Favela.
O filme é muito assertivo em alguns caminhos que escolhe, pois, ao mesmo tempo em que mostra a ascensão de Jorge e Ezequiel, mostra o declínio disfarçado de sucesso de Roque, que se rende ao crime. Mostra a falta de visão de futuro daquele que não tem perspectiva nenhuma. Roque decide viver o presente.
Essa necessidade de viver a vida e aproveitar o máximo que puder culmina em uma grande tragédia, facilmente prevista em certos momentos. Um choque que tem efeito contrário em Roque, mas que afeta Jorge ainda mais.
“Eu sou um preto beiçudo mais não tenho alma de escravo!”
Se do ponto de vista artístico o filme só carrega elogios, a coisa muda um pouco do ponto de vista técnico. Dirigido por Helvécio Ratton (Menino Maluquinho – O Filme), o longa se perde em alguns momentos, principalmente no quesito atuação. Quando falamos dos atores coadjuvantes – que, muito provavelmente, não são atores de verdade – a coisa fica ainda pior. Mas, embora isso incomode, não chega a atrapalhar a experiência.
“Agora, pelas ondas do ar que não tem dono, a música que não toca em outras rádios.”
Um ponto que merece ser citado é a escolha das músicas que compõem a trilha sonora. Exibidas como se fizessem parte da programação da própria rádio, demonstram uma atenção especial da mesma em valorizar a diversidade da cultura afro no Brasil, assim como a sua força como mecanismo de protesto.
Ao longo dos 92 minutos da produção, ouvimos desde o rap nacional do Racionais MCs até o samba do morro, bem como o blues, o funk e até o berimbau da capoeira. A música também é muito bem utilizada para demonstrar as mudanças temporais de algumas cenas. E os moradores da favela também ganham seu espaço, podendo apresentar suas próprias composições e trabalhos artísticos.
Ano: 2002
Gênero: Drama
Direção: Helvécio Ratton
Atores: Alexandre Moreno
Babu Santana, Adolfo Moura
Benjamim Abras, Edyr Duqui e
Priscila Dias.
Uma Onda no Ar é um filme simples, bonito e que cumpre o que promete. Conta a história de uma das mais importantes rádios comunitárias do Brasil ao mesmo tempo em que faz uma homenagem a este tão incrível meio de comunicação.