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    Blog do Matheus Prado

    Matheus Prado é professor universitário, jornalista, escritor e cineasta. Autor de quatro livros, ministra cursos sobre escrita criativa e storytelling.

    NOSFERATU: A estética vazia de Robert Eggers e a reinvenção sem alma de um clássico do horror

    O diretor de "A Bruxa" tenta reviver o clássico do Expressionismo Alemão com uma abordagem estilística que, embora ambiciosa, resulta em uma experiência estéril e desprovida de emoção, evidenciando as limitações de sua assinatura visual e narrativa.

    Se Nosferatu, o clássico do Expressionismo Alemão lançado em 1922, me envolveu com suas sombras e me convidou a explorar os recantos mais obscuros da psique humana, sua versão moderna fez o extremo oposto. Enquanto assistia a produção dirigida por Robert Eggers, sentia que a produção apenas projeta uma penumbra superficial, deixando-me a deriva em um vazio estético.

    Em sua tentativa de reimaginar o clássico, Eggers nos transporta para a Alemanha do século XIX, onde o corretor imobiliário Thomas Hutter (Nicholas Hoult) viaja até um país exótico para concluir uma negociação com o enigmático Conde Orlok (Bill Skarsgård). Enquanto isso, sua esposa Ellen (Lily-Rose Depp) é atormentada por visões perturbadoras que prenunciam a chegada do mal.

    Lily-Rose Depp em “Nosferatu” | Créditos: Universal Pictures

    Porém, mais do que uma simples narrativa de terror, este Nosferatu se apresenta como uma exploração da estética sobre a substância, onde a forma prevalece em detrimento do conteúdo emocional. Eggers, conhecido por sua abordagem visual distintiva, parece aqui mais preocupado em exibir sua marca registrada de paleta aguada descolorida e atmosfera lúgubre do que em insuflar vida aos personagens e à trama.​

    O contexto cultural e social que permeia a obra original de F.W. Murnau é rico em simbolismos e reflexões sobre os medos e ansiedades da época, especialmente relacionados à peste e à alteridade. No entanto, a releitura de Eggers falha em estabelecer uma conexão significativa com o público contemporâneo.

    Ao invés de atualizar os temas para refletir as inquietações modernas, o filme se enclausura em uma estética que, embora visualmente impressionante, carece de relevância e profundidade.​

    Nicholas Hoult Depp em cena de “Nosferatu” | Créditos: Universal Pictures

    A exploração filosófica do roteiro também deixa a desejar. Enquanto o Nosferatu original servia como uma metáfora poderosa para os temores sociais de sua época, esta versão se perde em sua própria pretensão artística. O resultado é uma narrativa que, ao invés de provocar reflexão, induz ao tédio, falhando em evocar qualquer emoção genuína.​

    Os personagens, em particular, sofrem com essa abordagem estéril. A Ellen de Lily-Rose Depp é reduzida a uma figura chorona, histérica e unidimensional, cuja constante lamentação se torna rapidamente irritante. Nicholas Hoult, por sua vez, exibe uma apatia que beira a indiferença, tornando difícil para o espectador se importar com seu destino.

    E o Conde Orlok de Bill Skarsgård, apesar de uma caracterização fisicamente impressionante, carece de uma presença verdadeiramente ameaçadora, parecendo mais uma caricatura do que uma encarnação do mal.

    Bill Skarsgård como o perigoso Conde Orlok em cena de “Nosferatu” | Créditos: Universal Pictures

    Não há dúvidas de que, tecnicamente, o filme é impecável. A direção de arte e a fotografia criam composições que poderiam figurar em galerias de arte. No entanto, essa perfeição visual acaba por reforçar a sensação de frieza e distanciamento, transformando o filme em um exercício de estilo vazio, desprovido de alma.​

    Não consigo deixa de pensar que Nosferatu resulta em uma experiência cinematográfica que, embora visualmente deslumbrante, é incapaz de tocar o espectador em um nível mais profundo. Ainda mais para os chatos como eu, que ainda acham que a forma deve sempre servir ao conteúdo, e não o contrário.

    Willem-Dafoe e Lily-Rose Depp em “Nosferatu” | Créditos: Universal Pictures

    No fim das contas, é um filme do Robert Eggers… e isso, por si só, já diz muita coisa. Para alguns, ele é a última esperança do horror moderno, o guardião da estética soturna e dos silêncios densos. Para mim, ele representa o ápice de um cinema que confunde lentidão com profundidade, silêncio com significado, e beleza plástica com impacto emocional.

    Talvez este seja o melhor que podemos esperar do cinema de gênero feito para a geração TikTok, com olhares vazios e um senso de urgência que jamais chega. Ou talvez (só talvez) eu esteja mesmo velho e chato demais para embarcar nessas viagens esotéricas e desidratadas. Tudo é possível.

    Pontuação individual

    direção
    atuação
    fotografia
    montagem
    roteiro

    Sobre a obra

    Uma jovem noiva é deixada sob os cuidados de amigos quando seu marido viaja para a Transilvânia para um encontro com o Conde Orlok. Atormentada por visões terríveis e uma crescente sensação de pavor, ela logo encontra uma força maligna que está muito além de sua compreensão.

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