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    Afinal de contas, a nova versão de “O Rei Leão” é um live-action ou não?

    Na última semana, a Disney divulgou o primeiro trailer da nova versão de O Rei Leão. Internet afora, o filme passou a ser apontado como uma adaptação live-action do clássico de 1994, e logo surgiram discussões se o termo poderia ser utilizado em um projeto cujos personagens foram inteiramente criados em computação gráfica.

    Mas, afinal, o novo Rei Leão é live-action ou não?

    A Questão Técnica

    O dicionário americano Merriam-Webster define live-action como “qualquer cinematografia que não é feita através de animação” — algo que, de forma simples, pode ser colocado como qualquer filme que envolva o uso de câmeras durante sua produção. Uma definição que tem muito mais a ver com o processo de captação da imagem do que necessariamente sobre a presença ou não de atores em tela.

    Para além do conceito básico de live-action, outro termo essencial para a discussão é o de Produção Virtual. A Weta Digital, empresa que trabalhou em filmes como Planeta dos Macacos, Vingadores: Guerra Infinita, O Senhor dos Anéis e O Hobbit, coloca a Produção Virtual como uma técnica “que permite que os diretores trabalhem em um protótipo de cenário enquanto visualizam ambiente e personagens digitais”. Game of Thrones é uma série que usa bastante as Produções Virtuais, por exemplo, construindo cenários inteiros e grandiosos a partir de um castelo real ou de uma parte de cenário construído em estúdio.

    Em 2016, a Disney produziu Mogli: O Menino Lobo, com direção do próprio Jon Favreau, que comanda O Rei Leão, usando Produção Virtual. No projeto, o diretor captou a performance do elenco e usou as atuações como base para o desenvolvimento da animação dos animais. Além disso, a equipe criativa do longa fotografou cerca de mil locações na Índia como referência para o departamento de efeitos visuais, responsável pela criação dos cenários do longa.

    A Disney não divulgou como está sendo feita a pós-produção de O Rei Leão, mas o filme é descrito como uma “expansão das técnicas usadas em Mogli”, então é seguro assumir que processos parecidos foram usados para a criação de Simba e da Pedra do Rei, que vimos no primeiro trailer.

    Produção virtual
    Exemplo de como é feita a Produção Virtual (Fonte: Weta Digita/Reprodução)

    Segundo Rafael Ribas, diretor da animação brasileira Lino: Uma Aventura de Sete Vidas, o mais importante para definir o que é um live-action é a primeira captação feita para o projeto: “Apesar dos personagens todos serem animados e quase tudo ser feito em animação 3D, existe uma base de captação ao vivo”, explica.

    É um live-action que o cara encheu de efeitos: todos os personagens, composições e a multiplicação dos animais, mas a primeira captação não deixa de ser live-action. Considerando a quantidade de efeitos em filmes live-action hoje em dia e que ainda são considerados live-action, esse também é.

    A Questão Estética

    Passados os aspectos técnicos envolvendo a produção, outro ponto importante é a questão estética. Girish Balakrishnan, supervisor de Produção Virtual em O Rei Leão, escreveu em seu site que o filme traz uma “estética live-action fotorrealista, ainda que criada em computação gráfica”.

    O trailer deixa bem claro que o longa reimagina todo o aspecto cartunesco da animação original, transpondo-o para um contexto visualmente realista. Ribas diz que devem ser levados em conta os aspectos técnicos e estéticos, mas que, nesse caso, a estética é o que prevalece.

    A Questão Filosófica

    Também é possível colocar em jogo no debate o conceito de Hiperrealidade conforme teorizado pelo filósofo Umberto Eco, no qual as técnicas de representação da realidade através de imagens se tornaram tão tecnologicamente avançadas, que são uma segunda realidade por si só — não só reproduz o nosso mundo, mas também o melhora em certos aspectos.

    Inclusive, esse nível de representação fiel é algo almejado pelos produtores. Rob Legato, supervisor de efeitos visuais de O Rei Leão, falou em entrevista ao THR:

    A habilidade de se recriar qualquer coisa de maneira fiel é o futuro do cinema. Você não deve perceber que usamos um computador para fazer o filme.

    Um bom exemplo para ilustrar o quão cinzento é o debate envolvendo O Rei Leão é o seguinte: caso a Marvel produzisse um filme no qual Thanos e os Filhos de Thanos fossem os únicos personagens da trama, ele deixaria de ser live-action?

    A tecnologia permitiu que o fantástico fosse trazido para as telonas de maneira ultra realista, fazendo com que os conceitos básicos de live-action e animação se tornassem turvos.

    De todo modo, independente de ser live-action ou animação, dada a repercussão do trailer do longa, é possível cravar que o filme será um grande sucesso, dando um novo olhar para uma obra que já se tornou clássica, e isso é o que realmente importa. Talvez seja a hora de atualizarmos nossos dicionários.

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