Poucas frases ecoaram tanto na minha cabeça durante o fim da infância e o começo da adolescência quanto “vida longa e próspera”. Ainda assim, naquela época, eu não conseguia fazer o tradicional cumprimento Vulcano sem usar a outra mão para separar os dedos. Naquela época, eu não acompanhava Star Trek. O que eu assistia era Jornada nas Estrelas, numa dublagem tão antiga quanto genial. É impossível contar o tanto de vezes que eu viajei na Enterprise ao lado do Capitão Kirk.
Mas o tempo cumpriu sua função e levou tudo embora. Me distanciei dos personagens e de tudo que eles representavam pra mim. Fui respirar novos ares e não me tornei um trekker, como muitos amigos.
Alguns anos depois, me vejo sentado no escuro, um par de óculos sobre os outros óculos e uma luz brilhando a minha frente: Star Trek: Sem Fronteiras, diz a legenda. E meu coração bate mais veloz. Tudo volta. Todos os sentimentos, todas as alegrias, todas as aventuras. Tudo que estava guardado no fundo do meu coração.
Peço desculpas pela introdução imensa, mas não há outra forma de explicar tudo que “Star Trek: Sem Fronteiras” fez comigo. E é exatamente esse o espírito que ele queria passar, ainda mais do que o Star Trek de 2009, dirigido pelo J.J. Abrams, que agora assume “apenas” a função de produtor.
O filme é uma grande volta as origens. De todos da trilogia, este é o que mais preserva aquele sentimento da série original. Um pouco de ingenuidade, misturado com aventura, planetas desconhecidos e personagens carismáticos. Também é o que dá mais destaques aos coadjuvantes e isso – talvez – se justifique pelo falo dele ter sido co-escrito por Simon Pegg, o ator que vive o engenheiro Scotty nos três filmes.
AVENTURA ONDE NENHUM HUMANO PISOU
A série clássica sempre prezou pelo desconhecido. Praticamente todos os episódios se passavam em planetas inexplorados, com raças novas e aventuras além da imaginação. O que vemos aqui é exatamente isso. E a direção de Justin Lin (Velozes e Furiosos 7) soube unir a nostalgia com as novidades.
Começamos acompanhando a tripulação da Enterprise no terceiro ano da sua viagem de cinco anos. Durante uma parada em uma estação espacial (inacreditavelmente bem maravilhosa), eles são surpreendidos por uma nave que pede socorro. É claro que atendem o chamado, seguindo em direção a uma nebulosa desconhecida.
Um detalhe interessante é que a estação espacial se chama Yorktown. Este nome é uma homenagem a Gene Roddemberry, o criador da série, que havia escolhido esse mesmo nome para a nave que, mais tarde, acabou se transformando na Enterprise.
Vemos um retorno triunfal do elenco comandado pelo Capitão James T. Kirk, interpretado por Chris Pine. Temos também Zachary Quinto, que da vida a um Spock um pouco mais emocional e engraçado, mas que ainda mantém o espírito do personagem de uma forma muito forte. O neo-zelandês Karl Urban está simplesmente fantástico como Leonard “Bones” McCoy e seu personagem é o mais carismático deste longa.
Também temos uma grande revelação, que é feita de forma simples, sem alarde. O personagem de John Cho, Sulu, é revelado como gay, em uma cena muito bonita. Tal decisão se deu como uma forma de homenagear George Takei, o ator que viveu Sulu na série clássica e que se revelou gay em 2005.
Enquanto a nave segue o seu destino, descobrimos que o pedido de ajuda é uma emboscada. A Enterprise é atacada por uma horda de naves cujo movimento lembra um enxame de abelhas. É neste momento que somos apresentados ao ótimo personagem de Idris Elba, que está irreconhecível como Krall, num primeiro momento. Seu personagem carrega ótimos questionamentos, se mostrando um vilão raro nos dias de hoje, com motivações maiores do que simplesmente destruir o Universo… Os filmes de herói que o digam.
Nesse momento, há uma queda em uma planeta misterioso e vemos todos os personagens divididos, tendo que enfrentar seus medos e suas limitações em nome da sobrevivência. A Tenente Uhura de Zoe Saldana tem grande destaque nesse quesito, se mantendo fiel a suas convicções mesmo diante da pior situação.
Quem também merece destaque é Sofia Boutella, que consegue se manter linda mesmo debaixo de tanta maquiagem. Sua personagem, a impetuosa Jaylah, é crível, cheia de atitude e, talvez, tão inspiradora quanto a Ray, de Star Wars.
Algo que me deixou muito feliz, por sinal, foi o uso incessante da maquiagem. O que me deixou mais decepcionado quando assisti a trilogia O Hobbit foi o uso exagerado de personagens gerados por computador. Tira um pouco a magia da coisa. Já em Star Trek, mantendo ainda mais o espírito nostálgico, somos agraciados com as mais diversas raças e quase todas criadas apenas como atores maquiados. Isso é lindo!
ALGUNS TRIBUTOS
Um ponto que – obviamente – não foi planejado é o pequeno tributo que vemos ao ator Anton Yelchin, que faleceu recentemente. Pavel Checkov, seu personagem, quase que em tom de despedida (e eu só conseguia pensar nisso quando o via na tela) teve um grande destaque na trama, acompanhado o capitão Kirk durante quase todo o tempo.
Também há uma homenagem bonita a Leonard Nimoy, que faleceu dia 27 de Fevereiro de 2015, aos 83 anos. Nimoy deu vida ao Spock na série original e fez ótimas participações nos dois primeiros filmes da nova trilogia. Neste último, sua participação é fantástica e certamente emocionará os fãs mais apaixonados.
Meus olhos marejaram mais de uma vez.
FINALIZANDO
O que resta é dizer que: Star Trek: Sem Fronteiras é um filme feito por fãs e para fãs, mas não exclusivamente para eles. Tenho certeza de que a maioria das pessoas que estavam na sala comigo não conheciam o legado da série, mesmo assim, só ouvi elogios enquanto saia da sala. O filme é de longe o mais divertido da trilogia e a encerra com chave de ouro, embora eu não acredite que eles vão parar por aí.
Mas, é para isso que viemos ao mundo. Para seguir em frente, cada vez mais longe, em direção a lugares onde nenhum homem jamais pisou.
E você, o que achou do filme? Deixei sua opinião nos comentários. Caso ainda não tenha visto, veja o trailer do longa abaixo e depois corra para o cinema mais próximo.