Eu conheço o Guto Aeraphe há alguns anos, mesmo que só tenhamos nos encontrado pessoalmente uma única vez, num evento promovido pelo site DSLR Brasil. A primeira vez que ouvi falar no seu nome foi quando ele ainda não era uma “celebridade” e sim um diretor “estreante” (entre muitas aspas), que tentava colher recursos para produzir seu primeiro longa. Posteriormente esse longa virou um média-metragem e logo em seguida se tornou a premiada Webserie Heróis, que conta um pouco da participação do Brasil na II Guerra Mundial.

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Naquela época, entrei em contato para saber mais sobre o filme, pois sempre fui apaixonado pelo tema, mas não tinha muitas esperanças de uma resposta. Porém, por mais incrível que isso possa parecer, ele me respondeu algum tempo depois e foi extremamente solícito.

O tempo passou lentamente e “Heróis” foi lançada. Como era de se esperar, foi um grande sucesso. Eu o convidei para algumas entrevistas e ele aceitou prontamente. Nós gravamos alguns episódios de um podcast (infelizmente extinto) e depois disso continuamos com um contato meio distante.

O tempo passou um pouco mais e ele lançou ApocalipZe, uma nova webserie com uma temática mais voltada para a ficção cientifica, com direito a muitas cenas de ação, tiros, explosões e zumbis, como o título sugere. Novamente conversamos muito na época do lançamento e ele, como sempre, foi muito atencioso e gentil.

Então o tempo continuou passando. E agora, depois de três anos, me vejo diante do que, acredito eu, seja a sua maior e mais ambiciosa produção: O longa-metragem Cidade do Sol.

Uma das coisas mais visíveis no Guto, além de sua determinação, é que ele é um patriota. Todas as suas histórias anteriores tiveram um foco muito grande no Brasil e com Cidade do Sol não foi diferente. A trama mostra como foi – e como ainda é – a participação do Brasil na missão de paz da ONU no Haiti, exibindo os problemas sociais do país, a violência sofrida e um pouco do dia-a-dia da população daquele lugar.

Ainda que o filme seja rodado quase que totalmente em inglês – e isso é extremamente importante e condizente com a trama – ele se mostra claramente brasileiro. O que você vê na tela são soldados brasileiros, e não apenas um estereótipo americanizado de “heróis anônimos em um país distante”. Esse fator, por si só, já é um grande mérito.

FIGURINO E CENÁRIOS

O filme contou com o apoio do Exército Brasileiro. Eu não sei dizer até onde o Exército ajudou com figurino e armamento, mas o que posso dizer é que eles estão muito bem caracterizados. Eu pesquisei para confirmar se os uniformes e os armamentos estavam corretos e me impressionei com a atenção aos detalhes. O trabalho está exemplar.

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E quando falamos em cenário, a coisa fica ainda mais impressionante. É difícil de acreditar que o filme não foi rodado no Haiti e sim em Minas Gerais. A direção de arte está inacreditável e tudo fica ainda mais fiel quando notamos que foram usados muitos figurantes haitianos nessas cenas externas.

DIREÇÃO

O Guto não precisa mais provar nada para ninguém. Todos já enxergaram o seu valor nos seus projetos anteriores, mas com Cidade do Sol ele mostrou que é, realmente, uma das maiores revelações do cinema nacional.

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A produção conta com atores de quatro nacionalidades diferentes e isso impressiona muito ao observarmos o resultado final. Pela minha curtíssima experiência com a direção, eu já posso dizer que dirigir em português é dificílimo. O que dizer então de uma língua que você sequer domina, como o créole, o idioma falado por quase toda a população do Haiti. Pois o Guto dirigiu atores falando em português, inglês, francês e créole. Merece palmas por isso.

As atuações também estão impecáveis. Ao falar disso, eu preciso destacar o trabalho do ator David Philippe, que interpreta o vilão Kenet. Não encontrei muitas informações sobre ele na internet, mas acredito que seja haitiano. Quem souber mais pode me falar.

Breno De Filippo também me surpreendeu bastante. A única referência que eu tinha de seus trabalhos eram algumas novelas… Que nem cheguei a assistir, mas que… Você sabe como é. São novelas da Globo! Até o Lucas Lucco atua em uma novela da Globo. De qualquer forma, ele provou que é um ótimo ator e me convenceu que era um sargento do Exército. Se eu o ver em uma próxima novela, irei assistir. ^^

Cinara Diniz também convence bastante e é fácil acreditar que ela é uma jornalista americana. Conseguiu reproduzir diálogos longos em inglês e sem nenhum sotaque mineiro – o que teria destruído o filme. Pelo que descobri, ela também atua como professora de inglês, e isso explica muita coisa. John Mick Aimé, outro ator haitiano, também exerceu muito bem sua função, principalmente nas cenas dramáticas e nos momentos finais da história.

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Guto também reacende algumas parcerias, como o excelente ator Marco Fugga, com quem já havia trabalhado em Heróis e em Nascido Morto. Ah, e vale a menção: o diretor interpreta um dos soldados também.

EDIÇÃO

Outro ponto de destaque é a edição do filme. Como aconteceu em seus outros projetos, a série foi editada pelo próprio diretor, que também assinou o roteiro. Ainda que isso seja um pouco comum no Brasil, onde a falta de profissionais e a falta de dinheiro – não nessa ordem – são os maiores vilões do cinema, não deixa de ser louvável saber que ele colocou a mão na massa.

Em alguns momentos, como no ato final, a edição acrescenta um toque dramático que faz muito bem ao filme.

PROBLEMAS

E agora eu chego ao momento chato, mas que não pode ser ignorado. O filme possuiu algumas falhas que, embora não sejam gritantes, poderiam ter estragado tudo.

O roteiro é uma dessas falhas. Ainda que a trama seja bem amarrada, eu não sei dizer, ao certo, se ela foi ou não concluída. O final deixa muita coisa em aberto, com uma leve impressão de que o tempo acabou e eles tiveram que parar de filmar do jeito que estava.

Os soldados brasileiros também foram poucos explorados e quando o filme acabou, eu só conhecia o Max. Até agora não sei o nome de nenhum deles, então foi difícil me importar com o que acontecia com eles. Tudo acontece de uma forma muito acelerada, mas isso pode ser encarado como uma característica do diretor ou algo assim. É difícil dizer.

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Em alguns momentos – pouquíssimos, devo dizer – o filme fica com uma cara de filme independente. Pode parecer estranho dizer isso, ainda mais considerando o fato de que ele é um filme independente. Mas digo isso porque o nível se eleva de uma forma tão magistral em algumas cenas que outras parecem meio perdidas.

Mas, vai por mim, talvez você nem repare isso enquanto assiste.

RESUMINDO…

O que resta a dizer é que Cidade do Sol é uma ótima pedida. Um filme muito bom, com ótimas intenções e que prova que sim, é possível fazer cinema de qualidade no Brasil, fugindo dos clichês “Globo Filmes” da vida…

Espero profundamente que o Guto continue produzindo ótimos trabalhos como este e que receba o reconhecimento que tanto merece.

PS: Essa semana tentarei gravar um vídeo falando um pouco mais sobre a produção. Aguardem. ^^

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