Do Gollum de O Senhor dos Anéis ao César de Planeta dos Macacos, Andy Serkis é, sem dúvidas, o mestre da captura de performance, a técnica que registra os movimentos e a atuação de um ator para dar vida a um personagem animado. E depois de colecionar papéis memoráveis, ele assumiu outro desafio: dirigir um elenco estrelado que usou a mesma técnica em Mogli: Entre Dois Mundos.
O filme da Netflix, que estreou no início do mês, tem em seu elenco Christian Bale (a pantera Baguera), Cate Blanchett (a cobra Kaa) e Benedict Cumberbatch (o tigre Shere Khan). E, segundo Serkis, todos se deram bem logo de cara com a captura de movimento.
Foi maravilhoso ver uma reunião tão gloriosa de atores talentosos de primeiro escalão usando essa tecnologia pela primeira vez. Todos eles pegaram o jeito com muita facilidade. Eles entenderam perfeitamente que, no fim das contas, é apenas uma outra tecnologia que está filmando a atuação deles. Nas primeiras semanas de filmagens, tivemos Mogli contracenando com esse elenco incrível, com câmeras na cabeça e pontos em seus rostos, e acho que eles realmente gostaram disso.
O filme foi o primeiro a ser dirigido por Serkis, mas demorou quatro anos para ficar pronto por conta dos efeitos especiais. Segundo o ator, cada cena foi trabalhada mais de cem vezes na pós-produção para dar vida ao numeroso elenco animal da história.
O maior desafio foi criar os animais, e criar de forma que você pudesse ver os rostos dos atores nos animais e se assegurar de que as atuações deles realmente iriam aparecer. Depois que terminamos de filmar, cada tomada teve que ser trabalhada e retrabalhada muitas vezes até que as atuações originais dos atores ficassem visíveis na tela.
A história de Moglie, o menino criado por lobos, é conhecida desde o lançamento de O Livro da Selva, escrita por Rudyard Kipling em 1894 – e ganhou várias versões para o cinema, sendo a mais recente de 2016. Por que, então, conta-la de novo?
Eu realmente amei que essa história era real e emocionante, e não estava dizendo para o público ‘nada de ruim vai acontecer’. Essa seria uma jornada muito emocionante, na selva. Queria que parecesse uma selva de verdade. Mogli está tentando transitar entre dois mundos, e os dos pareciam muito reais.
A nova versão da trama trata de assuntos sérios como colonialismo e o bullying, que é personificado em um novo personagem, um lobo albino. O cineasta, porém, rejeita o rótulo de que sua versão da história não seria um “filme de família”, como apontado por muitos críticos.
Com certeza não para crianças pequenas, diria que é para aquelas de oito anos em diante. É mais intenso. Há consequências reais, riscos reais, emoções reais.
Serkis ainda disse que teve sorte ao encontrar Rohan Chand, o garoto que vive Mogli. Os dois fizeram um teste por videoconferência, já que estavam em cidades diferentes.
Achei que teríamos que procurar por muito tempo, mas ele foi o terceiro ator que vimos e ficou óbvio imediatamente que ele iria fazer o papel. Ele foi fantástico. Era só um garotinho quando começamos.
Um dia após o lançamento do longa, Serkis foi recebido com status de estrela na CCXP 2018 (Comic Com Experience), que aconteceu em São Paulo. O ator e diretor até tentou andar na feira, mas foi logo reconhecido por fãs e causou tumulto no pavilhão. Horas mais tarde, ele seria aplaudido de pé em um painel sobre seu novo trabalho.
Tal recepção foi inédita para ele, que não poupou elogios aos fãs brasileiros.
Foi incrível. Fui a muitas Comic Cons antes, mas nunca no Brasil. Foi um nível acima. Foi realmente incrível. Os fãs são muito devotados e muito calorosos. Maravilhoso.