Uma noite dessas estava procurando um filme para assistir na Netflix, de preferência algo nacional. Assim, reparo: tirando alguns filmes e documentários excelentes da lista, é nítida a má distribuição e desvalorização das produções audiovisuais brasileiras. Claro, tenho consciência que deve existir alguma questão burocrática atrás disso, mas é decepcionante analisar uma imensa lista de filmes, onde no lugar excelentes produções poderiam estar.
Quando você enxerga o cinema nacional, você compreende que no audiovisual é possível mais do que uma linguagem.
“A grama do vizinho é mais verde”, até no cinema.
É cultural. Podemos observar que as crianças, dependendo da classe social, são inspiradas com poucos gêneros audiovisuais, e predominantemente o Hollywoodiano. Os primeiros longas vistos de uma criança distraída são as produções norte-americanas, por um quesito social. Não estou desmerecendo ou esquecendo de outras fantásticas criações, pelo contrário, estou levantando a questão de que pela quantidade de produção de uma cultura dominante, automaticamente leva em conta uma questão revolucionária e “cineducativa”.
Por isso, o caminho a ser trilhado para a verdadeira valorização do cinema nacional é longo, demorando um certo tempo na sua compreensão e finalidade. É algo difícil de entender, pois o país é uma dimensão continental, e tem uma beleza, sensibilidade, e individualidade tão grande em sua linguagem audiovisual que é impossível não se encantar.
Em todos os gêneros, o cinema nacional é extremamente poético e político. Podemos nos vangloriar, pois belo baixo orçamento nas produções nacionais, é evidente uma originalidade no jogo de imagens e palavras, mesmo que de forma irrelevante e cômica. E quando mergulhamos no roteiro e nos distraímos, nos apaixonamos instantaneamente, já que a empatia que nossa sociedade tem em cada personagem é evidente.
“É um cinema de autoria mais contundente. ”
Para contar uma história, a mesma deve ser vivenciada.
Muitos marcos políticos geraram os movimentos artísticos, pois todo grande artista registra sua época, tanto quanto o Cinema Novo, como diversos materiais audiovisuais que desenharam o nosso cenário contemporâneo da época. Passamos por diversas mudanças, até mesmo quando haviam pouquíssimas produções, se formos comparar com a densidade e liberdade contemporânea.
A indústria audiovisual brasileira ainda está crescendo, sendo algo positivo, pois a bagagem cultural nacional que carregamos é intensa, podendo gerar diversos roteiros. Tanto que muitos diretores nacionais são orgulhosos de seus projetos envolta de uma cultura nada homogênea, cheio de níveis sociais e singularidade na estética.
Auto da Compadecida é um exemplo de peça teatral virar uma referência poética da realidade do brasileiro. As cenas parecem pinturas de grandes artistas plásticos. O filme possui uma bela e forte base literária, artística e fotográfica.
Por isso, podemos entender que todas as artes se entrelaçam. A literatura, as artes plásticas e o cinema se completam em diversos quesitos, pois todas debatem um enredo que consiste em cultura, ética, ideologia e a complexidade da psique humana.
E falando em artes plásticas, se formos analisar Macunaíma, direção e roteiro de Joaquim Pedro de Andrade e autoria literária de Mário de Andrade, é nítida a inspiração do estudo primitivo, algo que também podemos notar na arte de Picasso. Ou seja, é clara a semelhança de caminho estabelecido em todas as artes e em todo o mundo.
O que é estrangeiro não deve ser repelido, pelo contrário, ele deve ser adicionado na cultura do observador e causar uma ótima mudança.
Não só nas artes, mas para qualquer tipo de debate social, a bagagem cultural é essencial. Não digo uma bagagem de alta complexidade, mas conhecido como alguém culto, eu digo a bagagem cultural do meio que um indivíduo vive, ser informado e saber interpretar o seu cotidiano.
Por essa razão, sou a favor de todas as séries e filmes internacionais ganharem espaço em nosso país, pois não existe outra forma se não nos beneficiar disso, e os colocar como referência para as produções audiovisuais nacionais.
Assim, creio que devemos popularizar o mercado cinematográfico nacional em todas as oportunidades que tivermos, e como muitos já implantam esse perfil, utilizar os filmes como um recurso didático para crianças, ganhando a possibilidade de descobrir o cinema nacional logo cedo, e quem sabe transformar toda uma geração “Netflix”.
Enfim, adicionar possibilidades de escolha na lista de filmes nacionais.
Pois é, um mínimo detalhe possui várias ramificações quando falamos sobre cinema nacional.