Em um futuro não tão distante, os Estados Unidos se fragmentam em uma guerra civil devastadora, onde 19 estados se separam da União, formando um exército de Forças Ocidentais que avança contra o poderio militar dos estados do Leste. Nesse cenário caótico um grupo de jornalistas que se aventura pelo país dividido, buscando registrar a verdade por trás do conflito.
Guerra Civil, dirigido por Alex Garland, conhecido por obras como “Ex Machina” e “Aniquilação”, é uma produção da A24 que se destaca por sua relevância temática e estética apurada. Garland, com sua experiência em narrativas de ficção científica e thrillers psicológicos, imprime ao filme uma atmosfera tensa e reflexiva, explorando as nuances da polarização política sem pender para um maniqueísmo simplista.
A fotografia, elemento central tanto na narrativa quanto na construção visual do filme, é um espetáculo à parte. As imagens capturadas pelas lentes de Rob Hardy, colaborador frequente de Garland, não apenas embelezam a tela, mas também evocam emoções profundas, refletindo a desolação e a esperança presentes em tempos de conflito. A escolha de focar em fotojornalistas como protagonistas reforça a importância do registro visual na compreensão e na memória dos eventos históricos.
No entanto, a opção por equipar os personagens com câmeras analógicas em meio a um cenário de guerra intensa levanta questionamentos. Embora a fotografia tradicional possua um charme inegável e uma profundidade artística, sua praticidade em situações de combate é discutível.
A necessidade de trocar filmes ou revelar imagens em meio ao caos bélico soa anacrônica, especialmente quando tecnologias digitais oferecem maior agilidade e segurança. Além disso, em momentos cruciais da trama, a captura de vídeos poderia fornecer um registro mais completo e imediato dos acontecimentos, aumentando a verossimilhança da narrativa.
As atuações são um dos pilares que sustentam Guerra Civil. Wagner Moura, no papel do jornalista Joel, entrega uma performance intensa e autêntica, consolidando-se como um dos atores mais versáteis de sua geração.
Sua química com Kirsten Dunst, que interpreta a fotojornalista Lee, é palpável, conferindo profundidade às interações e aos dilemas enfrentados pelos personagens. Dunst, por sua vez, oferece uma atuação contida e poderosa, capturando a complexidade de uma profissional dedicada em meio ao turbilhão emocional da guerra.
O roteiro de Garland é habilidoso ao abordar a polarização política, evitando simplificações e estereótipos. Ao invés de demonizar um lado ou outro, o filme expõe os perigos dos extremos, convidando o espectador a refletir sobre as consequências da radicalização. Essa abordagem equilibrada enriquece o debate e amplia a compreensão dos fatores que levam uma sociedade ao colapso.
Contudo, alguns detalhes técnicos comprometem a imersão completa na história. A insistência no uso de câmeras analógicas, embora simbolicamente relevante, desafia a lógica prática em um contexto de guerra moderna. Além disso, certas cenas de ação, embora bem coreografadas, apresentam inconsistências que podem distrair o espectador mais atento.
Em suma, Guerra Civil é uma obra cinematográfica que, apesar de suas falhas, oferece uma reflexão profunda sobre os perigos da polarização e o papel da mídia em tempos de crise. Com uma fotografia deslumbrante e atuações memoráveis, o filme reafirma o talento de Alex Garland em criar narrativas provocativas e visualmente impactantes.