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    Blog do Matheus Prado

    Matheus Prado é professor universitário, jornalista, escritor e cineasta. Autor de quatro livros, ministra cursos sobre escrita criativa e storytelling.

    GUERRA CIVIL: um espelho distópico que mostra os conflitos da polarização contemporânea

    Alex Garland entrega um thriller provocativo que, através de uma fotografia deslumbrante e atuações marcantes, explora os perigos dos extremos políticos, embora tropece em detalhes técnicos que comprometem a imersão.

    Em um futuro não tão distante, os Estados Unidos se fragmentam em uma guerra civil devastadora, onde 19 estados se separam da União, formando um exército de Forças Ocidentais que avança contra o poderio militar dos estados do Leste. Nesse cenário caótico um grupo de jornalistas que se aventura pelo país dividido, buscando registrar a verdade por trás do conflito.

    Guerra Civil, dirigido por Alex Garland, conhecido por obras como “Ex Machina” e “Aniquilação”, é uma produção da A24 que se destaca por sua relevância temática e estética apurada. Garland, com sua experiência em narrativas de ficção científica e thrillers psicológicos, imprime ao filme uma atmosfera tensa e reflexiva, explorando as nuances da polarização política sem pender para um maniqueísmo simplista.

    Guerra Civil | Créditos: A24

    A fotografia, elemento central tanto na narrativa quanto na construção visual do filme, é um espetáculo à parte. As imagens capturadas pelas lentes de Rob Hardy, colaborador frequente de Garland, não apenas embelezam a tela, mas também evocam emoções profundas, refletindo a desolação e a esperança presentes em tempos de conflito. A escolha de focar em fotojornalistas como protagonistas reforça a importância do registro visual na compreensão e na memória dos eventos históricos.

    No entanto, a opção por equipar os personagens com câmeras analógicas em meio a um cenário de guerra intensa levanta questionamentos. Embora a fotografia tradicional possua um charme inegável e uma profundidade artística, sua praticidade em situações de combate é discutível.

    A necessidade de trocar filmes ou revelar imagens em meio ao caos bélico soa anacrônica, especialmente quando tecnologias digitais oferecem maior agilidade e segurança. Além disso, em momentos cruciais da trama, a captura de vídeos poderia fornecer um registro mais completo e imediato dos acontecimentos, aumentando a verossimilhança da narrativa.

    Guerra Civil | Créditos: A24

    As atuações são um dos pilares que sustentam Guerra Civil. Wagner Moura, no papel do jornalista Joel, entrega uma performance intensa e autêntica, consolidando-se como um dos atores mais versáteis de sua geração.

    Sua química com Kirsten Dunst, que interpreta a fotojornalista Lee, é palpável, conferindo profundidade às interações e aos dilemas enfrentados pelos personagens. Dunst, por sua vez, oferece uma atuação contida e poderosa, capturando a complexidade de uma profissional dedicada em meio ao turbilhão emocional da guerra.

    O roteiro de Garland é habilidoso ao abordar a polarização política, evitando simplificações e estereótipos. Ao invés de demonizar um lado ou outro, o filme expõe os perigos dos extremos, convidando o espectador a refletir sobre as consequências da radicalização. Essa abordagem equilibrada enriquece o debate e amplia a compreensão dos fatores que levam uma sociedade ao colapso.

    Contudo, alguns detalhes técnicos comprometem a imersão completa na história. A insistência no uso de câmeras analógicas, embora simbolicamente relevante, desafia a lógica prática em um contexto de guerra moderna. Além disso, certas cenas de ação, embora bem coreografadas, apresentam inconsistências que podem distrair o espectador mais atento.

    Em suma, Guerra Civil é uma obra cinematográfica que, apesar de suas falhas, oferece uma reflexão profunda sobre os perigos da polarização e o papel da mídia em tempos de crise. Com uma fotografia deslumbrante e atuações memoráveis, o filme reafirma o talento de Alex Garland em criar narrativas provocativas e visualmente impactantes.

    O brasileiro Wagner Moura e Kirsten Dunst em “Guerra Civil” | Créditos: A24 / Diamond Films

    Pontuação individual

    direção
    atuação
    fotografia
    montagem
    roteiro

    Sobre a obra

    Em um futuro não tão distante, os Estados Unidos se fragmentam em uma guerra civil devastadora, onde 19 estados se separam da União, formando um exército de Forças Ocidentais que avança contra o poderio militar dos estados do Leste. Nesse cenário caótico um grupo de jornalistas que se aventura pelo país dividido, buscando registrar a verdade por trás do conflito.

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