Esse texto é um oferecimento do Indico Filmes e Séries e é especial para aquelas pessoas que adoram dedicar um pouquinho do seu tempo para o entretenimento, mas querem ter certeza de que não vão cair em uma cilada e assistir o filme ou a série errado para o seu perfil.

A gente sabe que gosto é algo muito pessoal e merece ser respeitado, então não seria legal contar com alguma ajudinha de quem entende do assunto na hora de escolher o que ver? Pois então, a partir de hoje, você vai encontrar aqui toda semana uma indicação amiga, que além de trazer breves informações sobre a produção, te dá os principais motivos pra quebrar com a famosa dúvida do “será que vale a pena ver?”. Com as dicas da Rafa Gomes não tem erro!


A nossa conexão com a música é algo de outro mundo. Não importa se você gosta de sertanejo, POP, rock, soul ou pagode. De um jeito ou de outro você se identifica com ela e – consequentemente – ela fala com você.

Essa sintonia reflete em todas as áreas da nossa vida e é praticamente impossível desassociar a música do nosso emocional. Quer você esteja indo muito bem ou muito mal, ela sempre vai tocar nas profundezas, te ajudando a exprimir sentimentos inexprimíveis.

Na dica de hoje, a lacuna que a música sempre preenche fica aberta, em um filme tão particular e singular que nos faz lembrar porque ela é tão fundamental nas nossas vidas.

E pelas lentes de uma das duplas mais admiradas de Hollywood, a indicação traz um olhar diferente, que só eles poderiam conferir. Chega de mistério e liga o som, porque aqui a batida é de encantar o coração!

Título: Inside Llewyn Davis – Balada de um Homem Comum
Ano: 2013
Elenco: Oscar Isaac, Justin Timberlake, Carey Mulligan, John Goodman


Sinopse relâmpago: Llewyn Davis (Oscar Isaac) está numa encruzilhada. Com seu violão em punho, acuado pelo imperdoável inverno nova-iorquino, ele luta para viver como músico, apesar de enfrentar obstáculos quase intransponíveis – muito por sua própria culpa. Vivendo à mercê de amigos e estranhos, assustado com os trabalhos que encontra, as desventuras de Davis o levam de bares no Village a um clube vazio em Chicago, enfrentando uma odisseia para ter uma audição com um influente empresário musical – e depois voltar.


Vale a pena por que: Uma das piores lacunas é aquela oriunda do vazio de algo que perdeu seu significado. É uma espécie de vácuo onde não há vida, onde há apenas a mera existência obrigatória, o existir pelo existir. Nada aquém, nada além. Essa subsistência mediante a morte do que um dia já foi, causa um estado absorto de plena anestesia diante das circunstâncias. É como se flutuássemos no ambiente onde estamos, fora da realidade, distante de qualquer coisa que necessite de alma, de entrega. Em ‘Inside Llewyn Davis – Balada de Um Homem Comum’, dimensionamos a frieza de alguém que, mesmo com um dos elementos mais emocionais que existe, abriu mão de sentir para viver o resto de seus dias à deriva de quem um dia ele poderia ter sido.

O novo drama dos Irmãos Coen é a biografia de alguém que quase foi, mas não chegou lá. Tem talento, mas não soube o que fazer com ele. Acompanhando os passos errantes de Llewyn Davis, testemunhamos muito mais que a história de um artista em busca do tão esperado e famigerado sonho de viver da música. Hollywood tem isso aos montes. Aqui, somos imersos nos átrios da cíclica e cansativa rotina do músico e descobrimos algo que pouco ou nada sabíamos sobre o estilo folk: seu papel libertador também pode sufocar.

Em se tratando de folk, nossa maior referência é Bob Dylan. Porta-voz inerente e não-anunciado do que abriria as portas para o vindouro movimento hippie, suas canções entoavam o desejo de paz em meio à Guerra do Vietnã e representavam de maneira sublime e delicada um tempo histórico marcado por ser o divisor de águas entre a “pureza” e a transgressão. Profundas, músicas como ‘Blowing in The Wind’ e ‘Mr. Tambourine Man’ simplificaram ideologias, angústias e anseios ao som de harmônicas e densas melodias.

Mas quando se trata de Llewyn Davis, estes aspectos se desfalecem entre nossos dedos. A profundidade de algumas letras com toque mórbido digladia com a frieza no olhar do personagem, que arrasta sua belíssima voz em sílabas mal pronunciadas. Ficamos atônitos, com um misto de sensações conflitantes. Estamos diante de um homem que precisa da música, mas se desassocia dela. A perda “física” que permeia sua trajetória se transfigura para o âmbito emocional, refletindo na forma como ele vê o estilo musical que o criou. Davis é um homem perdido de si mesmo, dentro de si mesmo. Uma das mais cruéis tragédias da existência humana.

E este antagonismo de alguém que quer viver de música, mas não quer senti-la, traça toda a narrativa ao longo das pouco mais de uma hora e meia do filme. Em um dos melhores papéis de sua vida, Oscar Isaac dá à vida – ironicamente – a um personagem morto. A tal balada de um homem comum é um conto triste de um ciclo vicioso que não possui qualquer interrupção iminente.

Despido do tradicional humor negro inerente a uma obra assinada pelos Irmãos Coen, mas sem perder o selo de autenticidade, ‘Llewyn Davis – Balada de Um Homem Comum’ é um sublime drama, dono de uma delicadeza poderosa. Sinfônico e bem escrito, ele é um dos filmes mais distintos da trajetória dos irmãos. Também sinestésico, a história do artista errante embala nossos ouvidos com uma belíssima homenagem à música folk, à medida que encanta nossos olhos com uma fotografia gélida e pálida, que vagamente nos leva de volta ao visual do clássico ‘Fargo’.

Curiosidades: ‘Inside Llewyn Davis’ estreou no Festival de Cannes em 2013 e ganhou o segundo prêmio mais importante do festival, o Grand Prix. Além disso, a prpdução recebeu duas indicações ao Oscar 2014, nas categorias de Melhor Fotografia e Melhor Mixagem de Som.