Apesar do sucesso inicial do remake de Nosferatu lançado em 2024, o original não teve essa mesma sorte. Original, na verdade, é uma palavra meio forte… Isso porque o filme Nosferatu, lançado em 1922, foi acusado de ser uma cópia completa de Drácula, o romance de Bram Stoker publicado em 1897.
Na época, o escritor já estava morto, mas sua viúva Florence Balcombe moveu uma ação judicial contra o filme, que exigiu não apenas uma indenização, mas também a destruição de todas as cópias do filme.
E essa medida quase aniquilou a produção. Tanto que Prana-Film, produtora fundada em 1921 com a proposta de criar obras macabras que flertassem com o ocultismo, faliu depois do processo. Ainda assim, algumas cópias resistiram e circularam discretamente, garantindo a sobrevivência de Nosferatu.
Para contornar a falta de licenciamento, Murnau e o roteirista Henrik Galeen trocaram os nomes originais de Drácula. O conde vampiresco transformou-se em Orlok, e a história deixou Londres para se ambientar na Alemanha, aproximando-se do público local. Mesmo assim, as semelhanças com o livro de Stoker não deixavam dúvidas sobre a inspiração — fato que a própria Florence Balcombe reconheceu nos tribunais.
O filme não apenas sobreviveu, mas se tornou um símbolo do Expressionismo Alemão. As cenas das sombras de Orlok projetadas nos cenários e a atmosfera densa idealizada por Murnau marcaram época. A performance de Max Schreck como vampiro influenciou desde obras literárias, como A Hora do Vampiro (1975), de Stephen King, até produções recentes, como a comédia O Que Fazemos nas Sombras (2014), de Taika Waititi.
O impacto de Nosferatu também fez Bram Stoker, mesmo morto, alcançar novos públicos. Florence Balcombe, depois de testemunhar o sucesso do filme alemão, permitiu uma adaptação teatral de Drácula em 1924. Nos palcos, Bela Lugosi brilhou a ponto de a Universal Pictures adquirir os direitos para a adaptação cinematográfica em 1931, inaugurando a era de ouro dos “Monstros da Universal“.
Graças às cópias que escaparam da destruição, Nosferatu foi restaurado e se tornou domínio público, preservando seu lugar como um dos pilares do cinema de horror. Em 1979, Werner Herzog produziu seu remake, Nosferatu: O Vampiro da Noite, e agora, em 2025, o diretor Robert Eggers (A Bruxa) assina mais uma releitura da história de Orlok, atualmente em cartaz nos cinemas brasileiros.
A produção original de 1922 pode ser assistida na íntegra no YouTube, comprovando que o legado de Nosferatu permanece vivo e influente. Das trincheiras da Primeira Guerra Mundial, onde Albin Grau se inspirou em lendas e aranhas sugando presas indefesas, aos cinemas de hoje, a figura sombria do vampiro segue como referência fundamental do gênero.