Esse texto é um oferecimento do Indico Filmes e Séries e é especial para aquelas pessoas que adoram dedicar um pouquinho do seu tempo para o entretenimento, mas querem ter certeza de que não vão cair em uma cilada e assistir o filme ou a série errado para o seu perfil.

A gente sabe que gosto é algo muito pessoal e merece ser respeitado, então não seria legal contar com alguma ajudinha de quem entende do assunto na hora de escolher o que ver? Pois então, a partir de hoje, você vai encontrar aqui toda semana uma indicação amiga, que além de trazer breves informações sobre a produção, te dá os principais motivos pra quebrar com a famosa dúvida do “será que vale a pena ver?”. Com as dicas da Rafa Gomes não tem erro!


Despedidas são de doer o coração. Principalmente se você tem que dar adeus a algo que faz parte de sua vida há tanto tempo. Tipo aquele bolo de chocolate delicioso (porque você decidiu fazer dieta) ou a maravilhosa tira de bacon que alegra vidas e faz cócegas no coração. Todo adeus dói. E quando se trata de cinema, machuca no íntimo da alma.

Se você é daqueles que se lembra da primeira vez que se sentou diante de uma telona para curtir a chegada do primeiro longa metragem de ‘X-Men’, no ano de 2000, você vai sentir o suor transpirar pelos olhos, naquele jeito que você sabe muito bem.

E eu poderia ficar aqui falando horas sobre esse filme maravilhoso, mas acho que você já sacou a dica da semana e a gente precisa seguir em frente, porque NÃO ESTÁ SENDO FÁCIL!

Vem chorar comigo e dar au revoir ao nosso Wolverine!️️

Título: ‘Logan’
Ano: 2017
Elenco: Hugh Jackman, Patrick Stewart, Dafne Keen, Boyd Hoolbrook
Direção: James Mangold


Sinopse relâmpago: Situado no futuro em 2029, Logan e o Professor Charles Xavier precisam lidar com a perda dos X-Men, quando uma corporação liderada por Nathaniel Essex está destruindo o mundo, com o fator de cura de Logan diminuindo lentamente e o Alzheimer de Xavier forçando-o a esquecer de tudo. Logan precisa deter Nathaniel Essex com a ajuda de uma jovem chamada Laura Kinney, um clone feminino do Wolverine.


Vale a pena por que: 17 anos, nove filmes e alguns erros. A trajetória do herói que é quase anti, um errante resgatado para assumir um fardo heroico com o qual ele lutou durante toda sua jornada, é marcada pelos dissabores de quem muitas vezes viu os quadrinhos se perderem em adaptações fracas, mediante uma incrível atuação. Ao longo de mais de uma década, vimos Wolverine, até então presente no clássico desenho dos anos 90, ganhar vida para além do universo de ‘X-Men’. Como um personagem que gerou uma fácil identificação justamente por sua dureza emocional, ele chega a sua consumação máxima, no clímax de todos os tempos, que encerra a jornada do herói não anunciado. Em ‘Logan’, não apenas damos adeus a Hugh Jackman. Damos adeus a uma apaixonante e agridoce era.

Não é exagero dizer que ‘Logan’ é uma das melhores adaptações de quadrinhos. Buscando na sua essência a violência enraizada no olhar carrancudo do protagonista, nos deparamos com um banquete sangrento que, após mais de 10 anos, permite a audiência ter um encontro genuíno com a brutalidade sempre tão presente nas histórias da Marvel. E este salivante hiato, que genuinamente será congelado no tempo e perpetuado como uma referência para a geração vindoura de filmes do gênero, é mesclado com a delicadeza mascarada de uma nova personagem que extrai do herói aquilo que sempre sonhamos prestigiar. Mas jamais poderíamos imaginar.

Contrapondo duas figuras iguais, que se colidem por seus papéis familiares nunca antes desbravados, o diretor James Mangold e sua dupla de roteiristas Michael Green e David James Kelly unem a atmosfera de um filme R-Rated (+16 anos) com a simbólica e sutil ligação pai-e-filha, que faz das mais de duas horas da produção um constante entrave psicológico vivido por Logan. Como alguém que passou a vida inteira fugindo de si mesmo e daqueles que o rodeiam, ele carrega em si as marcas de um amor fracassado, a morte não planejada de sua amada por suas próprias mãos e agora leva em seus braços um calejado Professor Xavier (Patrick Stewart), que trava uma luta pessoal entre seus devaneios, seu gênio indomável e a fraqueza da idade. Adicionado a isso, Laura/X-23 (Dafne Keen) entra em cena, trazendo à luz do dia o sentimento mais ‘obscuro’ e imensurável: a paternidade.

Essa intrigante balança entre o caráter fechado de Logan e seu instinto paterno – até então desconhecido – ganha ainda mais corpo com outro vilão inesperado. Frente a frente com uma antiga figura de seu passado, Wolverine também se vê forçado a encarar quem um dia ele foi, à medida que também lida com aquele que ele genuinamente gostaria de ser. O desenrolar desta trama tão bem equilibrada presenteia os fãs de quadrinhos e do personagem a chance de vivenciar o lado mais humano que permeia todas as feridas e marcas carregadas na alma e no corpo do herói. Ao abordar o inimaginável, não apenas nos identificamos com Logan de uma forma completamente distinta, como tememos cada vez mais por seu fatídico final.

Nas últimas horas de sua trajetória de 17 anos, vemos diante das telas a redenção de um personagem completamente unapologetic, que novamente sem pedir licença, rouba nossos corações para um suspiro final. Ansiosos com a pequena sensação de que nem todo fim significa que tudo acabou, vemos a trama desfalecer em nossas mãos, quebrando cada um de nossos paradigmas em uma promessa que jamais seria cumprida. Aguardamos o encerramento espetacular de ‘Os Imperdoáveis’, de 1992, (western que serviu de referência para ‘Logan’), apenas para terminarmos com o coração partido. Aquele fim veio, sem qualquer anúncio prévio.

E com um elenco de apoio excelente, que conta com Stephen Merchant como Caliban e Boyd Hoolbrook como o antagonista Donald Pierce, ‘Logan’ é o doloroso corte final com uma fotografia belíssima, de uma ferida que não se cicatrizará tão cedo. Tão profunda quanto as marcas da alma do Wolverine, ela é a lembrança latente de que o adeus foi cedo demais. E ironicamente, ao som do clássico folk ‘Hurt’, de Johnny Cash, ela é também a dor que eternizará a tênue memória de uma viagem que só se vive uma vez.