A rápida evolução da Inteligência Artificial (IA) têm permeado diversas áreas e exercendo uma influência crescente no cinema. Tanto em aplicações passadas e até em futuras possibilidades de uso da ferramenta, a IA tem levantado questões instigantes e nem sempre agradáveis como: poderia a IA substituir a criatividade humana?
Quais os desafios e benefícios da sua integração no cinema? Exploraremos aqui e agora o impacto variado da IA dentro da indústria cinematográfica.
O cinema possui um histórico de adoção de novas tecnologias já faz um bom tempo, a IA nos dias de hoje, representa a mais nova onda de inovação. Com suas aplicações abrangendo diversas etapas, desde a pré-produção, até a pós-produção e distribuição.
Ferramentas como ChatGPT, ScriptBook e entre outras já foram e continuam sendo utilizadas na geração de roteiros, oferecendo diversas novas possibilidades para a escrita criativa. Temos como exemplo o curta-metragem de 2016 Sunspring, o primeiro filme onde o roteiro foi escrito inteiramente por uma Inteligência Artificial chamada Benjamin, desenvolvido por Ross Goodwin na Universidade de Nova York.
Essa ferramenta foi treinada com mais de 200 roteiros em sua rede neural e gerou o texto de Sunspring em questão de poucos minutos. Apesar das críticas pela má qualidade dos diálogos e falta de conexão entre as cenas, Sunspring levantou importantes discussões sobre o futuro dos roteiros dentro do cinema e o grande potencial da IA como ferramenta criativa.

Outro exemplo de aplicação de IA dentro do cinema está em O Brutalista, filme indicado ao Oscar, onde recebeu o prêmio de melhor fotografia, melhor trilha sonora original e melhor ator, além de diversos outros prêmios por fora . A IA foi usada na pós-produção para refinar o diálogo em húngaro dos atores Adrien Brody e Felicity Jones, onde foi utilizada a ferramenta ucraniana Respeecher.
O objetivo do uso da ferramenta, segundo diretor Dávid Jancsó, foi de alcançar uma pronúncia mais autêntica, onde os próprios atores gravaram suas falas e a IA sendo usada para ajustar vogais e letras, descrito como edição de diálogo, no intuito de otimizar tempo e orçamento e não para modificar as atuações.
Jancsó esclareceu que a IA não alterou o inglês falado no filme e que o processo foi manual, realizado pela equipe de som junto com a colaboração da Respeecher, com o intuito de preservar a autenticidade das performances em outra língua. A revelação do uso da IA em O Brutalista gerou um grande e intenso debate online, com muitos a expressarem preocupação e a sugerirem que o filme deveria ser desqualificado de premiações como os Oscars.

A principal alegação era que qualquer tipo de alteração na performance de um ator feita por IA comprometeria sua autenticidade e, portanto, sua elegibilidade a prêmios. O diretor Brady Corbet, sobre as críticas, defendeu que as performances dos atores foram inteiramente suas e enfatizou que a IA foi usada especificamente para aprimorar a precisão do húngaro, e de forma alguma para substituir ou alterar as atuações, feitas com o máximo respeito pela arte.
A controvérsia em torno do filme demonstra a crescente complexidade das implicações e adaptação da IA no cinema, expandindo a discussão para além da autoria de roteiros e alcançando questões cruciais sobre a integridade da performance autoral e os critérios de avaliação em prestigiados prêmios da indústria cinematográfica.

A inteligência artificial está sem dúvidas redefinindo o panorama do cinema, oferecendo novas ferramentas e oportunidades em todas as fases da produção. Apesar de trazer consigo desafios significativos no que diz respeito a questões éticas e criativas, o potencial da IA para inovar e otimizar a indústria cinematográfica é inegável.
A controvérsia em torno do uso de IA em filmes como O Brutalista e as discussões sobre a sua implicação em prémios como os OSCARs sublinham a necessidade de um diálogo contínuo sobre as fronteiras éticas e criativas desta tecnologia.
Produzido por Arthur Henrique Bogoni, aluno da graduação de Cinema e Mídias Digitais da Faculdade Fastech, sob supervisão do professor Matheus Prado.