A 96ª edição do Oscar encerrou uma das temporadas mais imprevisíveis da história da premiação, marcada por incêndios que devastaram Los Angeles e um escândalo que implodiu Emilia Pérez, um dos favoritos. Também marcou a primeira vitória do Brasil na maior premiação do cinema mundial.
E eu não podia deixar esse momento passar sem apresentar uma análise como a minha visão de tudo o que aconteceu na cerimônia. Especialmente considerando que o grande vencedor foi Anora, uma produção modesta que custou apenas US$ 6 milhões e conquistou cinco estatuetas, incluindo Melhor Filme e Melhor Direção para Sean Baker.

O longa, que começou sua jornada ao vencer a Palma de Ouro no Festival de Cannes, repetiu a trajetória de Parasita (2019), outro título da Neon que quebrou barreiras na premiação. Anora foi impulsionado por uma campanha meticulosa, reapresentado em festivais de outono e sustentado por críticas altamente positivas (93% no Rotten Tomatoes).
No entanto, até pouco antes da cerimônia, poucos apostavam em sua vitória, já que outros grandes concorrentes, como O Brutalista, Wicked, Um Completo Desconhecido e Conclave, pareciam mais cotados para o grande prêmio.
A virada começou quando Anora venceu os prêmios de Melhor Filme no Critics Choice Awards, no Sindicato dos Produtores (PGA) e no Sindicato dos Diretores (DGA), consolidando-se como favorito. Nem mesmo as vitórias de Conclave no BAFTA e no SAG Awards foram suficientes para barrar o favoritismo do filme de Sean Baker.
Oscar do Brasil
Outro momento marcante da cerimônia, especialmente para nós, foi a consagração de Ainda Estou Aqui, que deu ao Brasil sua primeira estatueta na categoria de Melhor Filme Internacional. Dirigido por Walter Salles e baseado no livro de Marcelo Rubens Paiva, o longa retrata a trajetória de Eunice Paiva, advogada que buscou respostas sobre o desaparecimento de seu marido, Rubens Paiva, durante a ditadura militar.
O prêmio foi entregue por Penélope Cruz e recebido por Walter Salles, que emocionou a plateia ao dedicar a conquista à ativista e às atrizes Fernanda Torres e Fernanda Montenegro.
Esse prêmio vai para ela: o nome dela é Eunice Paiva. E também vai para as mulheres extraordinárias que deram vida a ela.
Seguindo a tradição do Oscar, a estatueta de Melhor Filme Internacional ficará sob posse do Brasil, e não do diretor.

Mikey Madison surpreende
O prêmio de Melhor Atriz foi uma das maiores disputas da noite. Mikey Madison, protagonista de Anora, venceu contra o favoritismo de Fernanda Torres (Ainda Estou Aqui), que havia conquistado o Globo de Ouro, e Demi Moore (A Substância). Apesar disso, a jovem atriz brilhou e garantiu o prêmio, reforçando a popularidade do filme entre os votantes.
Já na categoria de Melhor Ator, Adrien Brody consolidou um dos retornos mais impressionantes da história do Oscar. Vinte e dois anos depois de vencer por O Pianista, o ator conquistou sua segunda estatueta pelo papel de um sobrevivente do Holocausto em O Brutalista. Com isso, Brody entrou para um seleto grupo de vencedores duplos, ao lado de nomes como Daniel Day-Lewis, Jack Nicholson e Marlon Brando.
As categorias de Melhor Ator e Atriz Coadjuvante seguiram as previsões, com Kieran Culkin (A Verdadeira Dor) e Zoe Saldaña (Emilia Pérez) levando os prêmios.

O escândalo de Emilia Pérez
Antes da cerimônia, Emilia Pérez era o grande favorito em várias categorias, por mais inacreditável que isso pareça. Mas sua campanha desmoronou depois da descoberta de centenas de tuítes ofensivos da atriz principal, Karla Sofía Gascón, o que gerou um forte impacto negativo.
A produção da Netflix, que chegou ao Oscar com 13 indicações, acabou levando apenas dois prêmios: Melhor Atriz Coadjuvante (Zoe Saldaña) e Melhor Canção Original (“El Mal”).
Os estúdios mais premiados
O Neon foi o grande estúdio vencedor da noite, com cinco prêmios, todos por Anora. A A24 ficou logo atrás, conquistando três estatuetas para O Brutalista (Melhor Ator, Melhor Fotografia e Melhor Trilha Sonora).
Outros estúdios tiveram destaque:
- Netflix: 3 prêmios (Emilia Pérez e The Only Girl in the Orchestra)
- Universal: 2 prêmios (Wicked – Figurino e Direção de Arte)
- Warner Bros.: 2 prêmios (Duna: Parte 2 – Som e Efeitos Visuais)
- Focus: 1 prêmio (Conclave – Roteiro Adaptado)
- MUBI: 1 prêmio (A Substância – Maquiagem e Cabelo)
- Sideshow/Janus: 1 prêmio (Flow – Melhor Animação)
O Oscar 2025 refletiu mudanças profundas na Academia, que desde o movimento #OscarsSoWhite tem premiado filmes mais diversos e fora dos padrões tradicionais de Hollywood. Com um histórico de vitórias para títulos como Parasita, Moonlight e Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo, a escolha de Anora reafirma o impacto da nova geração de votantes, cada vez mais internacional e aberta a narrativas não convencionais.