Sim, o meme é velho, mas ainda descreve muito bem clássicos do cinema que se você não viu e precisa ver. Essa coluna será quinzenal e trará sempre um filme que considero indispensável.
Como primeira coluna, decidi começar do alto, com um quase cliché. Retirado do livro de contos de Stephen King, Quatro Estações (também responsável pelo conto que inspirou o filme “Conta Comigo”, que ficará para uma próxima), o conto Rita Hayworth e a Redenção de Shawshank inspirou o filme Um Sonho de Liberdade.
Ambientado em 1946, conta a história de Andy Dufresne (Tim Robbins), um banqueiro bem sucedido que é condenado a prisão perpétua por assassinar sua esposa e o amante. O filme mostra a estadia de Andy na cadeia, com seus altos e baixos, as amizades e as inimizades.
O filme é narrado por Red (Morgan Freeman), que é aquele cara que consegue contrabandear coisas para dentro da prisão. Logo ele e Andy viram grandes amigos. Andy se mostra um prisioneiro calado e reservado, tentando não chamar a atenção e arrumar confusão. Porém seu histórico de banqueiro e seu porte de alta sociedade fazem com que chame mais atenção do que o desejado.
A esperteza de Andy logo faz com que ele ganhe a amizade de alguns prisioneiros e a confiança dos guardas, fazendo com que ele comece a trabalhar em áreas melhores, como a biblioteca da prisão. Porém com segundas intenções, dos guardas, que o colocaram nessa posição pois assim ele poderia ser usado para fazer o imposto de renda dos guardas e outras consultas de investimentos. Após alguns anos o Diretor da prisão coloca Andy para trabalhar no escritório, já que ele sabia como burlar o sistema para fazer lavagem de dinheiro.
Os personagens do filme são construídos a partir de estereótipos de cadeia, como o prisioneiro que contrabandeia itens por cigarro, o policial que abusa do poder, o policial/diretor corrupto, a “gang” que implica com o principal, e até mesmo o prisioneiro que já não sabe mais viver livre. Mas isso não faz deles personagens rasos e sem muita importância, muito pelo contrário, a empatia que você sente por alguns dos personagens é algo que não se vê mais tão facilmente nos filmes.
A história é contada sem pressa, mas também sem monotonia, num ritmo que você nem percebe o tempo passar, assim como os anos que Andy está dentro da prisão. A história também não se preocupa em te mostrar o passado dos personagens, não é necessário, o que eles se tornaram por estar naquele ambiente é o que importa.
As atuações são convincentes e marcantes. Apenas com a postura, Tim Robins consegue passar o ar inabalável e tranquilo que Andy tem. Morgan Freeman, como de costume faz uma atuação impecável e uma narração com pontuações divertidas, quem explicam sem te chamar de burro. Os personagens secundários não deixa a desejar, com o passar do filme e do tempo na cadeia, você se apega a uns e odeia, com todas as suas forças, outros.
Andy teve uma vida abastada, com tudo que podia querer, e então se viu na cadeia sem nada. Porém continuou com a esperança que podia ter uma chance fora da prisão (talvez por ter vivido com tudo, ele pode alimentar essa esperança, pois sabia como contornar algumas adversidades), perspectiva que Red não tinha, já que passou a maior parte da sua vida dentro da prisão, ele já não tem esperanças de que saiba viver fora de lá, e de que não tem nada para ele fora da cadeia.
Dá para se dizer que durante o filme Andy é um personagem sonhador, que batalha para conseguir o que quer (como a biblioteca, por exemplo) e não desiste fácil, tenta incansavelmente. Já Red, seu melhor amigo lá dentro, é o contraponto: realista, que vive no presente, está preso e conformado, sem uma planos do que fazer quando for solto; seu mundo acaba virando apenas o que existe dentro dos muros, o lado de fora é um sonho que não pode ser vivido.
O filme é bem profundo e tem um final surpreendente. O tipo de filme que não acaba quando termina, fazendo você ficar pensando nele por horas/dias. Mas o que a Rita Hayworth (do título do conto original) tem a ver com tudo isso? Bom isso você vai ter que descobrir sozinho.