Mais

    Blog do Matheus Prado

    Matheus Prado é professor universitário, jornalista, escritor e cineasta. Autor de quatro livros, ministra cursos sobre escrita criativa e storytelling.

    A CASA QUE JACK CONSTRUIU: o melhor trabalho de Lars von Trier

    O cinemagem está retomando depois de um longo hiato e, que estejamos colocando as notícias em dia, ainda preciso acertar alguns detalhes sobre o canal e sobre as críticas em texto. É por isso que tenho assistido tudo o que se projeta na minha frente, seja um blockbuster hollywoodiano, seja um filme francês de quatro horas sobre um homem e seu sapato.

    É claro que uns são mais divertidos do que outros, mas pretendo escrever sobre todos que me importarem. E o primeiro desta lista é um que, ainda que não seja necessariamente novo, só pude ver agora e me impactou de uma forma arrebatadora. Não que isso seja algo de tudo bom ou de tudo mal… mas certamente não vai passar em branco em minhas reflexões pós-filme.

    Estou falando de A Casa que Jack Construiu.

    Assisti esse filma durante a madrugada, sem saber nada sobre a história, o polo ou os motivos. Tudo o que eu sabia era que ele unia duas coisas que eu não suporto: violência extrema e Lars von Trier. Também já tinha visto no YouTube a clássica cena que emula um trecho de ”A Divina Comédia”, de Dante Alighieri. Mas isso era tudo. Nunca sequer vi um trailer.

    Minha experiencia com Lars von Trier nunca foi boa. Assisti as duas partes de Ninfomaníaca, mas não consegui enxergar a genialidade pintada por alguns. Gostei um pouco mais de “Dogville”, mas “Anticristo” não me desceu muito bem. Nesse aspecto, posso dizer sem sombra de dúvidas que A Casa que Jack Construiu se tornou (para mim) o melhor filme do Lars.

    Ainda assim, o longa carrega os mesmos defeitos que enxergo em todos os outros trabalhos do diretor: uma necessidade quase adolescente de chocar e de chamar a atenção do mundo, mescladas com um desespero evidente, aflito por soar disruptivo e inteligente.

    Sabe aqueles críticos de cinema que querem te ensinar a ver um filme? Lars von Trier se tornar ainda pior quando tenta forçar o público a entender seus filmes exatamente como ele quer, mesmo que afirme o contrário. Até o subtexto de suas histórias torna-se gritante, seja nas narrações expositivas, seja nas alegorias preguiçosas. Mas vale ressaltar que até mesmo as personagens reconhecem isso em determinados momentos.

    E se toda essa necessidade de soar inteligente quase destrói o filme, a atuação surreal de Matt Dillon em cenas magnéticas me geram certa confusão. Afinal, como um filme de serial killer e como um profundo estudo de personagem, A Casa que Jack Construiu é uma verdadeira obra de arte. A tensão se eleva em todos os momentos importantes, mesmo que o filme possua um ritmo lento. E Jack é tão estranho e, ao mesmo tempo, tão real, que é surpreendente que o diretor e também roteirista não tenha caído na tentação de deixá-lo “atraente demais”.

    Terminei o filme conhecendo o Jack profundamente, mas seque nunca amá-lo. Muito pelo contrário. Eu o odiava com todas as minhas forças e o via como ele realmente era: um maníaco que precisava ser parado.

    Em uma das cenas mais assustadoras, quando Jack tem vários surtos de Transtorno Obsessivo Compulsivo (T.O.C.) e isso o faz entrar na casa de uma das vítimas várias vezes para limpar locais que já estavam limpos, fiquei totalmente vidrado. E o desfecho deste acontecimento torna-se ainda mais surreal e interessante, quando visto em perspectiva.

    Se os efeitos especiais do bizarro epílogo me jogaram para fora da história, os efeitos práticos nas cenas dos crimes fizeram o oposto. Com excessão de uma cena com tiros a longa distância e assassinatos de crianças, onde os efeitos soaram terrivelmente artificiais, seja propositalmente ou não, todo o resto soa absurdamente cru e visceral. Uma cena chegou a me fazer cobrir os olhos. Como disse antes, não gosto de violência gráfica extrema, mas consegui enxergar sua utilidade neste filme.

    Há detalhes técnicos que também merecem ser analisados. Mesmo que não siga a risca o Dogma 95, um movimento cinematográfico que ajudou a fundar junto com outros diretores dinamarqueses, Lars von Trier mantém um estilo audiovisual econômico e, por vezes, quase amador. Isso não o impede ser bom, é claro. E se o zoom estranhíssimo da primeira sequencia do filme não te incomodar demais, certamente você aguentará a tremedeira da câmera, os ângulos incomuns e a fotografia atípica. Para mim, nada disso realmente atrapalhou.

    A Casa que Jack Construiu é um filme estranho e, também por isso, minha análise também seja estranha. Não apreciei o tom mítico e as discussões filosóficas de boteco que foram propostas, mas gostei de todo o resto e isso é coisa pra caramba. Ainda mais quando considero que é um filme do Lars von Trier.

    É e claro que você pode argumentar que eu simplesmente não entendi o que ele quis dizer. Que não consegui captar as mensagens profundas escondidas nas discussões ou o tom metafísico proposto no longa. Talvez tudo isso seja verdade e, se for, está tudo bem. Para mim, o cinema é muito mais sobre experiência visceral de assistir o filme do que sobre a mudança de perspectiva que o diretor propõe.

    Se você pensa como eu, recomendo que veja o filme com um olhar mais abrangente. Se gosta de filmes de serial killer, estará diante de um prato cheio. Mas se quer só se divertir, sem pensar em nada, recomendo que escolha algo menos pretensioso.

    Pontuação individual

    direção
    atuação
    fotografia
    montagem
    roteiro

    Sobre a obra

    Em um período de doze anos, Jack é um ardiloso assassino em série de mulheres que tem um único objetivo sangrento a cumprir: executar o crime perfeito, sem deixar nenhum tipo de rastro. Ao mesmo tempo, ele tenta construir uma casa, mas não encontra os materiais certos para este trabalho.

    conheça nosso canal no telegram!

    O cinemagem agora tem um canal no Telegram! Participe para receber as principais notícias da cultura pop com exclusividade! É só clicar AQUI. Você também pode acompanhar nosso canal do YouTube. Lá você encontra críticas, notícias e masterclass sobre cinema. Tudo de graça para você. Viva pelo cinema!

    nossas críticas

    Assine o FILMICCA

    Últimas Notícias

    mais lidas de hoje

    Em um período de doze anos, Jack é um ardiloso assassino em série de mulheres que tem um único objetivo sangrento a cumprir: executar o crime perfeito, sem deixar nenhum tipo de rastro. Ao mesmo tempo, ele tenta construir uma casa, mas não encontra os materiais certos para este trabalho.A CASA QUE JACK CONSTRUIU: o melhor trabalho de Lars von Trier
    plugins premium WordPress