Ainda que eu odiasse Harry Potter (o que definitivamente não é o caso), jamais teria coragem de falar mal de seus feitos e seu legado. Só o fato de ter feito com que milhões de crianças ao redor do mundo adquirissem o hábito da leitura já é uma coisa que merece ser louvada. Mas obra escrita pela britânica J.K. Rowling conseguiu ir além disso e fazer o mesmo que O Hobbit (o livro) e Star Wars (a trilogia original) fizeram em suas respectivas épocas: criar uma legião de fãs apaixonadas pelo mundo, a cultura, os personagens e a filosofia atrás de tudo.
Pensando em tudo isso, já dá pra imaginar toda a pressão em cima do mais recente lançamento envolvendo o mundo bruxo, depois de cinco anos sem novas estreias. Animais Fantásticos e Ondem Habitam é uma aposta ousada, mas, acima de tudo, incrivelmente assertiva, madura e bem construída.
Logo de início somos apresentados ao excêntrico Newt Scamander (Eddie Redmayne), um ex-aluno de Hogwarts que viaja até Nova York com uma maleta cheia de animais mágicos. Scamander já é um velho conhecido dos fãs da saga, já que ele é autor do livro que dá nome ao filme e que também é usada como livro didático nas aulas de Hogwarts. Como não poderia deixar de ser uma grande confusão acontece e alguns animais escapam da mala, se perdendo na cidade. Scamander precisa capturá-los antes que eles causem (ou sofram) algum mal.
O filme corria um risco sério, desde seu anúncio. O primeiro longa da saga do bruxinho estreou em 2011 e, naquela época, era focado no público infantil. Os anos passaram, Harry Potter cresceu e seus fãs também. E o maior medo era que o novo filme ignorasse que agora, boa parte dos espectadores seriam adultos e investissem apenas no público infantil. Felizmente, isso não aconteceu. Vemos o mesmo mundo encantador dos outros oito longas, mas eles carregam um tom um pouco mais adulto e sombrio, que surpreende os adultos e fascina as crianças.
DE ESCRITORA A ROTEIRISTA
J.K. Rowling não precisa mais provar seu talento como escritora. Além da saga de Harry Potter, ela já escreveu livros adultos que receberam ótimas críticas, como o drama Morte Súbita e os romances policiais O Chamado do Cuco, O Bicho-da-Seda e Vocação para o Mal, lançados inicialmente sob o pseudônimo de Robert Galbraith.
O que ainda não sabíamos era se ela se daria bem como roteirista, já que, ainda que pareçam iguais, são trabalhos completamente diferentes. Grandes escritores já fracassaram miseravelmente escrevendo roteiros, como Stephen King em O Iluminado de 1997, que foi massacrado tanto pela crítica quanto pelo público. Mas Rowling se saiu muito bem.
Ela soube mesclar momentos de ação e comédia de forma única, controlando bem as reações dos espectadores. Eu, que a todos instante tentava ver mais como crítico e menos como fã, sai do cinema com vontade de voltar e assistir tudo de novo.
UMA BOA DIREÇÃO
O diretor David Yates já havia comandado quatro títulos do universo de Harry Potter, então é fato que ele já sabia onde estava se metendo. Mas depois do fracasso de Tarzan, seu último lançamento, muita gente temia que o lado visual fosse mais forte que o conteúdo. E muitos ainda choravam a saída de Alfonso Cuarón, que dirigiu o longa que é considerado por muitos o melhor de toda a saga do bruxo: O Prisioneiro de Azkaban. Mas o fato é que Yates fez o seu trabalho muito bem e ficou claro que ele sabe como traduzir visualmente as loucuras (no bom sentido) que brotam da imaginação de J.K. Rowling.
A arte e a fotografia, como sempre, também merecem grande destaque, uma vez que os animais e a magia estão mais críveis do que nunca. Até mesmo o 3D, que eu sempre detestei, se mostrou bem eficiente em muitos momentos. Mais uma das gratas surpresas do filme.
JOHNNY DEPP E AS POLÊMICAS
Quando Johnny Depp foi anunciado no papel do vilão Gellert Grindelwald (nos livros lançados no Brasil, seu nome é Gerardo Grindelwald), muitos fãs torceram o nariz. Não que duvidassem de sua capacidade. O problema maior se deu pelas recentes acusações de agressão registradas por Amber Heard, a ex-mulher do ator. Como a própria J.K. Rowling já foi vítima de agressões de seu ex-marido, o jornalista português Jorge Arantes, seria um grande erro colocar um ator envolvido em atos semelhantes.
Mas o fato é que as agressões de Depp nunca foram provadas, Amber Heard retirou as acusações na justiça e Rowling deu uma breve declaração dizendo que Depp era a melhor escolha para o papel. Depois de assistir o filme, que conta com uma breve – porém marcante – aparição do vilão, posso dizer que também concordo com ela.
O que me deixa com o pé atrás é essa aparente necessidade de criar uma história longa e complexa, com um vilão superpoderoso e uma ameaça mundial. Eu confessor que preferia histórias isoladas, menos pretenciosas. Algum tempo atrás, vimos o mesmo erro sendo cometido na polêmica adaptação de Peter Jackson para O Hobbit. O pequeno e maravilhoso livro de J.R.R. Tolkien, que poderia render um ótimo filme, no máximo dois, acabou sendo esticado em três longas gigantescos, chatos e desnecessários.
Mas não podemos fazer nada além de esperar e rezar para que Johnny Depp não nos traga mais uma versão afetada do Jack Sparrow.
VALE MUITO A PENA
Animais Fantásticos e Onde Habitam, mas do que qualquer outra coisa, é uma ótima viagem de volta ao universo mágico de J.K. Rowling. Ele surge como um acalanto para os fãs e uma grata surpresa para aqueles que estavam presos numa caverna e nem sabiam que Harry Potter existia. Abre inúmeras possibilidades para o que pode ser feito daqui pra frente.
E eu estarei no cinema em todos os próximos quatro filmes.
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Veja o trailer de Animais Fantásticos e Onde Habitam: