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    Blog do Matheus Prado

    Matheus Prado é professor universitário, jornalista, escritor e cineasta. Autor de quatro livros, ministra cursos sobre escrita criativa e storytelling.

    AVATAR – O CAMINHO DA ÁGUA: maior, melhor e muito mais apaixonante

    Eu já sabia que Avatar: O Caminho da Água seria um grande filme, pelo simples fato de que James Cameron é um grande diretor. E devo ressaltar que ele não é “só” um grande diretor. Ele é um dos maiores diretores de cinema que o mundo já viu.

    Além de ser uma máquina de imprimir dinheiro, o cineasta domina como ninguém a capacidade de contar uma história que soe interessante em todas as esferas, por mais repetitiva que ela possa parecer. Quando o primeiro Avatar estreou, em 2009, muita gente disse que era apenas mais uma versão da história da Pocahontas, só que no espaço.

    Ainda assim, o longa se tornou o maior sucesso de bilheteria de todos os tempos, desde que o cinema foi criado, em 1895. Mais do que isso: Avatar quebrou um recorde que já pertencia ao próprio Cameron, com seu filme Titanic, de 1997, que hoje segue sendo o terceiro filme com a maior bilheteria de todos os tempos.

    Pensando nesses aspectos, qualquer um poderia esperar coisas grandes do segundo filme da franquia Avatar. Mas eu preciso confessar que eu não estava preparado para a experiência cinematográfica que esse filme me proporcionou.

    No longa, acompanhamos Jake Sully e sua família, agora composta por muitos filhos, enquanto eles tentam sobreviver a uma nova investida dos humanos, o Povo do Céu. Temendo pela segurança de todos Jake decide levá-los para o litoral, onde se encontram com o clã dos Metkayina e precisam aprender novos costumes para viver na comunidade, enquanto se escondem de uma nova versão do Coronel Miles Quaritch (Stephen Lang).

    Alguns pequenos problemas

    Considerando que humanos são limitados e filmes são criações humanos, deduzimos que um filme perfeito é algo impossível de se encontrar. Dessa forma, ainda que eu elogie muito as características positivas deste longa, preciso deixar claro que ele também possui problemas. E eu vou começar justamente por esses problemas, para ter um tempo maior para falar dos pontos positivos da produção.

    Em primeiro lugar, o roteiro segue simples, mostrando que este ainda não é o ponto forte da franquia Avatar. Vale destacar que ele foi muito mais bem desenvolvido do que o primeiro, mostrando um avanço profundo nos personagens que aparecem novamente e até mesmo uma profundidade maior naqueles que são inseridos pela primeira vez.

    Ainda assim, pontos consolidados da própria mitologia apresentada no filme inicial parecem ser ignorados pela necessidade de criar um conflito e um estereótipo. A jovem Kiri, interpretada pela Sigourney Weaver, é chamada de aberração por possuir uma ligação profunda com entidade mística Eywa. Isso vai contra o que era apresentado no primeiro filme, onde este tipo de ligação teria sido recebida com honras.

    Nem mesmo o tempo decorrido na história entre um filme e outro (algo que também não fica claro com exatidão) explica essa mudança no comportamento dos Na’vi. O único motivo possível é a origem misteriosa da personagem, que eu não vou citar para não dar spoilers. Mas se este fosse mesmo o caso, a ideia deveria ter sido aprofundada.

    Outro problema que me incomodou foi a trilha sonora totalmente genérica. Sabemos que o compositor da trilha sonora do primeiro filme, James Horner, morreu em 2015, aos 61 anos, em um acidente de avião na Califórnia. Horner também copos a trilha de Titanic, que é tão icônica quanto o filme, e pela qual ganhou dois Oscares.

    Para Avatar: O Caminho da Água, a trilha ficou a cargo de Simon Franglen, que não compôs nada que seja digno de nota. Talvez seja por isso que ela passou tão batida ao longo da projeção. A trilha cumpre seu papel. Emociona quando precisa emocionar, mas não faz nada além disso, o que é um ponto bem negativo. Ficou longe da maestria do primeiro.

    Muitos pontos positivos

    Agora entramos naquele que deve ser a maior vantagem do filme. Sua construção visual. Cada elemento em cena, seja ele real ou gerado por computador, possuiu seu lugar e seu motivo cênico. Nada é gratuito. Até mesmo os longos mergulhos, que servem apenas para mostrar as criaturas do oceano vasto de Pandora, possuem a função imersiva e narrativa.

    Outro detalhe importante é o avanço BRUTAL da qualidade dos personagens digitais. Se os Na’vi do primeiro filme já impressionavam, estes chegam a assustar. O famoso Vale da Estranheza simplesmente não existe na produção.

    Para quem não conhece o termo, ele descreve a repulsa primitiva e fundamental que sentimos de coisas que parecem humanas, mas não são idênticas. Isso se dá porque estamos acostumados a ver seres humanos desde que nascemos e enxergamos detalhes incorretos mesmo quando não sabemos descrevê-los.

    Você acha que este robô é realista ou assustador?

    Mas em Avatar: O Caminho da Água, a coisa muda de figura. É virtualmente impossível diferenciar as imagens reais daquelas produzidas por computador. Só sabemos que certas coisas são irreais porque sabemos que Pandora não existe e sabemos que os Na’vi também não existem. Caso contrário, eu seria capaz de bater os pés no chão e dizer que se trata de um documentário sobre a vida fora da Terra.

    E se eu comecei apresentando os pontos negativos do roteiro, agora preciso mostrar como ele evoluiu de uma produção para o outro. Enquanto o filme original mostra a clássica narrativa do bom homem branco, que salva os nativos do problema que ele mesmo causou, este novo filme nos apresenta uma jornada em busca de paz e segurança.

    A nova prioridade de Jake Sully (Sam Worthington) não é derrotar o povo do céu, mas manter seus filhos a salvo. Para isso, ele aceita fugir e se esconder em um novo clã, junto ao povo Metkayina. Isso traz uma série de problemas para seus filhos, que não conhecem o mundo além dos domínios do clã Omaticaya. E o próprio Jake teme esta jornada, mas sabe que ela é necessária.

    Assim temos dois pontos interessantes. A fuga e a descoberta, que são compartilhados com os “novos” vilões, que são versões diferentes de personagens já apresentados na primeira trama. Note que eu não considero isso algo ruim, uma vez que a forma como esse retorno foi apresentado faz muito sentido dentro da trama.

    Se existe um ponto realmente negativo na forma como tudo isso foi tratado neste filme, se dá na necessidade de frear parte da história, uma vez que Avatar 3 já está confirmado e deve ser lançado em 24, independentemente do sucesso do segundo filme. São os filmes 4 e 5 que estão ligados ao sucesso desta sequência.

    A importância da linguagem

    Um detalhe que poucas pessoas entendem é que o roteiro é apenas um dos muitos elementos que compõem um filme. Avaliar um filme apenas com base na qualidade do seu roteiro é ignorar detalhes que também são cruciais para que a história se compreendida em sua plenitude. Afinal, não é por menos que o cinema é uma das artes mais completas.

    Um filme é uma mescla de quase todas as artes existentes. Quando você imerge neste mundo, é tocado pela música, pela fotografia, pela escrita, pelas artes cênicas, pelo desenho, pela pintura, pela arquitetura, pela escultura, pelas artes plásticas… tudo isso se junta para formar o que chamamos de cinema. E é por isso que um filme precisa ser analisado enquanto produto audiovisual, não apenas como roteiro.

    Em Avatar: O Caminho da Água, isso se torna ainda mais real. James Cameron usa a fotografia para contar uma parte da história que não pode ser entendida por quem apenas lê o texto. O mundo de Pandora é um personagem tão cativante quanto os muitos Na’vi que povoam este paraíso que brotou de um sonho do diretor.

    É para desenvolver este personagem que é Pandora que a Fotografia, em parceria com a Direção de Arte, trabalha tão bem. Os planos são longos e contemplativos, mostrando a beleza e complexidade daquele admirável mundo novo. E ao mesmo tempo em que a câmera parece dançar de um lado para o outro, com sutileza e suavidade, me soa carregada de precisão, como se não pudesse estar em nenhum outro lugar além do que está.

    Ainda neste aspecto, a linguagem acaba amenizando pequenos problemas de roteiro, como o bullying com a Kiri, ao qual já me referi. As cenas em que ela entra em comunhão com a Eywa e “sente sua respiração” são tão lindas que é difícil não se emocionar.

    Conclusão

    Por fim, espero que você lembre-se da máxima que eu já disse muitas vezes. Minha função enquanto crítico não é te ensinar a ver um filme. Também não é te provar que um filme é bom ou ruim. Meu único objetivo é te apresentar minhas impressões e esperar que elas possam te ajudar a sentir coisas parecidas.

    Em Avatar: O Caminho da Água, eu sorri e chorei. Eu experimentei uma coisas que há anos não experimentava em uma sala de cinema. E vivi uma imersão que poucos filmes são capazes de proporcionar. E isso não se dá apenas pelo incrível trabalho de 3D, mas também pela direção precisa de James Cameron e seu zelo para com um trabalho que é mais do que especial para ele.

    E que, agora, também é especial e pessoal para mim.

    Pontuação individual

    direção
    atuação
    fotografia
    montagem
    roteiro

    Sobre a obra

    No longa, acompanhamos Jake Sully e sua família, agora composta por muitos filhos, enquanto eles tentam sobreviver a uma nova investida dos humanos, o Povo do Céu. Temendo pela segurança de todos Jake decide levá-los para o litoral, onde se encontram com o clã dos Metkayina e precisam aprender novos costumes para viver na comunidade, enquanto se escondem de uma nova versão do Coronel Miles Quaritch (Stephen Lang).

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