Sei que vou na contramão do mundo quando digo isso, mas nunca escondi que gosto de remakes. Me diverti assistindo O Vingador do Futuro de 2012 com o Colin Farrell e isso não me fez esquecer o clássico de 1990 com o Arnold Schwarzenegger. Também gostei bastante do Conan, O Bárbaro de 2011, indo contra o Schwarzenegger mais uma vez. E eu chego a ter a ousadia de gostar mais da Carrie, A Estranha de 2013 do que do clássico de 1976 dirigido pelo Brian De Palma.

Isso, por si só, já justificaria o fato de eu ter gostado do recém lançado Ben-Hur, dirigido pelo russo Timur Bekmambetov (Abraham Lincoln – Caçador de Vampiros) e protagonizado pelo desconhecido Jack Huston, que mais parece um astro teen. Mas há outras coisas que precisam ser ditas. Outros fatos que pesaram na hora que me pus a escrever está crítica.

Jack Huston, com sua cara de conquistador barato...
Jack Huston, com sua cara de conquistador barato…

Um fato interessante é que o próprio Ben-Hur clássico também é um remake. A primeira adaptação do romance Ben-Hur: A tale of the Christ (escrito por Lew Wallace e lançado em 1880) foi produzida em 1907. Em 1925 houve uma outra adaptação. Charlton Heston só apareceu em 1959, mais de 30 anos depois, para interpretar Judah Bem-Hur no filme considerado o maior épico de todos os tempos.

UM FILME FEITO PARA CRISTÃOS

Voltando ao presente, o filme se apoia em temas um pouco diferentes do se predecessor. O foco está no perdão. Em aceitar as diferenças e perdoá-las, independente da gravidade da situação. E também é visível que ele tem o objetivo de atingir um público extremamente grande e carente de boas produções: os cristãos praticantes.

Ainda que não fosse essa a intenção principal do diretor, somos apresentados a um Jesus Cristo (Rodrigo Santoro) extremamente cativante e poderoso. Poderoso até mesmo no sentido literal, já que em uma determinada situação, ele controla um soldado romano para oferecer água ao sofredor Judah Bem-Hur. Isso demonstra um paralelo interessante: Jesus tem poder para fazer de nós o que quiser. Para controlar nossa vontade. Mas ele nos oferece o dom do livre-arbítrio, deixando que possamos escolher nossos caminhos.

Rodrigo Santoro: o maior trunfo do filme
Rodrigo Santoro: o maior trunfo do filme

Estas mensagens cristãs habitam todo o filme, desde o primeiro momento, já que a sequência inicial mostra Messala (Toby Kebbell), o irmão e melhor amigo de Bem-Hur o carregando em suas costas por dezenas de quilômetros depois de um acidente horrível. Este mesmo irmão, que algum tempo depois, se tornaria seu maior inimigo e o motivo de sua vingança.

Messala depois de virar a casaca.
Messala depois de virar a casaca.

Também me surpreendeu o fato do filme não buscar o tom épico que era esperado. Ele não prima por longas tomadas heroicas, que mostram toda a grandiosidade dos cenários e dos efeitos visuais. A verdade é que aparenta seguir o caminho contrário, se focando nos sentimentos dos personagens e no que eles têm a dizer. Os diálogos chegam a ser bobos em alguns momentos, mas isto também nos salva de um mar de frases de efeito que poderia ter acontecido caso o diretor fosse um pouco mais megalomaníaco.

As sequências de ação apresentam um belo contraste. A esperada cena da corrida de bigas impressiona, ainda que não seja a melhor coisa já vista no cinema. Tem momentos agoniantes e momentos de alívio, como qualquer boa cena de ação deve ser. Cumpre se papel muito bem. Muito melhor do que o original, devo dizer, guardadas as devidas proporções tecnológicas e orçamentárias.

FINALIZANDO

Gostei do filme, mas não nego que que as opiniões negativas têm seu fundamento. O longa de 1959 foi o maior filme do século XX, no quesito espetáculo e produção. Custou US$ 15 milhões, um orçamento estratosférico para a época e, como fruto, quebrou um recorde e ganhou 11 estatuetas no Oscar. Este feito só foi igualado muitos anos depois, em 1997, por Titanic e em 2003, com O senhor dos Anéis – O Retorno do Rei.

Este novo Bem-Hur nunca chegará perto destes números. Sequer será indicado ao Oscar, creio eu. Melhora alguns aspectos do filme clássico, mas, assim com os remakes que citei no primeiro parágrafo deste texto, é completamente “esquecível”. Não vai sobreviver por 60 anos, o que é uma pena. Mas vale cada centavo do ingresso.

E se você não gostou, só me resta parafrasear o Jesus do Rodrigo Santoro, com uma pequena alteração nas palavras: “Perdoa-o(a), Pai, pois ele(a) não sabe o que diz”.