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    Blog do Matheus Prado

    Matheus Prado é professor universitário, jornalista, escritor e cineasta. Autor de quatro livros, ministra cursos sobre escrita criativa e storytelling.

    CONCLAVE: intriga, oposição e conspiração pelo posto de representante de Deus na Terra

    Um thriller político disfarçado de mistério, Conclave transforma um processo sagrado em um jogo de traição, influência e poder. Com atuações marcantes e um suspense meticulosamente construído, o filme surpreende até a última cena, ainda que seu tom excessivamente sombrio possa cansar.

    Como um bom católico, sou apaixonado pelos ritos da Igreja. Desde criança, observa com atenção e reverência cada palavra proferida pelo padre e queria entender o porquê de cada ação, cada oração e cada desdobramento. Isso me acompanha até os dias de hoje e foi um dos principais motivos pelo meu grande interesse em Conclave, filme de Edward Berger que joga luz sobre o processo de escolha do novo Papa.

    Ainda mais porque o filme promete revelar o que há de mais humano – e, portanto, falho – entre aqueles que deveriam representar a fé inabalável. Sou um humano crítico e ciente da falha entre aqueles que governam a Igreja, ainda que isso não abale minha fé. A Igreja é falha porque o homem é falho.

    E se o Vaticano já foi palco de inúmeros mistérios e teorias de conspiração, este filme eleva esse cenário a um jogo quase shakespeariano de influência e traição, em que cada olhar e até mesmo o mais suave dos sussurros carregam significados ocultos.

    Ralph Fiennes como o preocupado Cardeal Lawrence em “Conclave” | Créditos: Focus Features

    Baseado no romance de Robert Harris, Conclave tem toda a estrutura de um whodunit, mas sem um crime a ser solucionado. O que acompanhamos é um jogo meticuloso de manipulação onde as peças se movem lentamente, sem que ninguém revele seus verdadeiros motivos. O principal mistério é quem será o novo Papa.

    O suspense não vem de um assassinato, mas da tensão silenciosa que cresce entre os cardeais, enquanto cada um busca garantir sua influência sobre a Igreja Católica. E nesse tabuleiro de xadrez eclesiástico, a peça mais imprevisível pode mudar tudo.

    O roteiro trabalha bem a construção das rivalidades e a escalada de ambição, sem jamais esquecer o elemento humano que permeia cada personagem. A luta pelo papado não é apenas política; ela é pessoal. Há orgulho ferido, há segredos enterrados, há acertos de contas e há, sobretudo, o desejo de moldar o futuro da Igreja e do mundo.

    Conclave | Créditos: Focus Features

    E se a trama mantém o público envolvido, é porque Conclave tem uma imprevisibilidade calculada: você sabe que está sendo conduzido, mas não consegue prever exatamente para onde. O final, embora com um viés político bem forte, consegue surpreender até os mais atentos.

    Ou melhor, quase todos. Confesso que, na minha incessante prática de destrinchar roteiros e prever suas reviravoltas, identifiquei o escolhido desde a sua primeira aparição. Mas isso não significa que o filme não tenha suas surpresas. Pelo contrário, o jogo é bem conduzido e amarra bem suas questões até a cena final. O único senão é que essa atmosfera de mistério e tensão, sustentada do começo ao fim, pode cansar em alguns momentos, especialmente perto da conclusão.

    Stanley Tuccicomo o progressista Cardeal Bellini em “Conclave” | Créditos: Focus Features

    Parte do êxito do filme está na sua edição, que transforma diálogos e gestos discretos em elementos de um suspense denso. Pequenas interações são carregadas de peso, e até mesmo os momentos mais mundanos são revestidos de uma carga dramática crescente.

    E se há algo que me incomodou um pouco, foi essa constante sombra pairando sobre tudo. Eu consigo notar que esse era o efeito desejado, mas… quando usado em excesso, começa a tornar a experiência mais pesada do que necessária.

    O elenco, no entanto, é o verdadeiro trunfo do filme. Ralph Fiennes, sempre impecável, entrega uma atuação que mescla racionalidade e emoção na medida exata. Sergio Castellitto, por sua vez, dá peso e carisma ao papel do detestável Cardeal Tedesco. E Isabella Rossellini, embora apareça pouco, brilha em cada cena em que aparece.

    São atuações que, sem exageros, carregam a trama e a tornam mais crível, conferindo ao filme uma densidade dramática que faz jus ao seu tema.

    Sergio Castellitto como o detestável Cardeal Tedesco em “Conclave” | Créditos: Focus Features

    Embora um pouco esnobado, Conclave teve uma presença marcante na temporada de premiações, especialmente no Oscar 2025. O filme recebeu oito indicações, incluindo Melhor Filme, Melhor Ator para Ralph Fiennes e Melhor Atriz Coadjuvante para Isabella Rossellini.

    Também foi indicado em categorias técnicas como Melhor Edição, Melhor Design de Produção, Melhor Figurino e Melhor Trilha Sonora Original. Mas ganhou apenas um, para Peter Straughan, de Melhor Roteiro Adaptado.

    Carlos Diehz como o carismático Cardeal Benítez em “Conclave” | Créditos: Focus Features

    No fim das contas, Conclave é um bom filme. Como eu não sabia absolutamente nada sobre a história antes de assistir, fui positivamente surpreendido. Sua abordagem sobre o poder e a influência no Vaticano é cativante, e mesmo com um ou outro deslize no ritmo, ele mantém o interesse até o último instante.

    Se você gosta de tramas políticas com um toque de mistério e personagens complexos, este é um filme que merece sua atenção.

    Pontuação individual

    direção
    atuação
    fotografia
    montagem
    roteiro

    Sobre a obra

    Com a morte do Papa, o cardeal Lawrence reúne um grupo de sacerdotes para eleger seu sucessor. Cercado por líderes do mundo todo nos corredores do Vaticano, ele descobre uma trilha de segredos profundos que podem abalar a própria fundação da Igreja.

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