Eu perdi a conta do tanto de vezes que eu assisti Independence Day entre 2000 e 2003. Eu havia conseguido uma fita cassete com um amigo e, movido pela paixão pelo seriado “Um Maluco no Pedaço”, não conseguia deixar de ver e rever Will Smith dando soco na cara dos alienígenas.

Naquela época, como um abobado e impressionado pré-adolescente, não o via como vejo hoje: um filme de ação e comédia, desprendido da realidade e que tem o entretenimento como único objetivo. Ele não quer te fazer pensar. Você não verá um roteiro genial e muito menos atuações brilhantes, dignas de premiações. Assistir Independence Day não é como assistir O Poderoso Chefão e o diretor alemão Roland Emmerich sabe disso. Mais do que isso: ele se aproveita disso.

Muitos personagens antigos estão de volta
Muitos personagens antigos estão de volta

Antes de mais nada, vamos a sinopse de Independence Day: O Ressurgimento:

Após o devastador ataque alienígena ocorrido em 1996, todas as nações da Terra se uniram para combater os extra-terrestres, caso eles retornassem. Para tanto são construídas bases na Lua e também em Saturno, que servem como monitoramento. Vinte anos depois, o revide enfim acontece e uma imensa nave, bem maior que as anteriores, chega à Terra. Para enfrentá-los, uma nova geração de pilotos liderada por Jake Morrison (Liam Hemsworth) é convocada pela presidente Landford (Sela Ward). Eles ainda recebem a ajuda de veteranos da primeira batalha, como o ex-presidente Whitmore (Bill Pullman), o cientista David Levinson (Jeff Goldblum) e seu pai Julius (Judd Hirsch).

Uma das muitas (e ótimas) cenas de ação do filme
Uma das muitas (e ótimas) cenas de ação do filme

Assim como no longa de 1996, a continuação de 2016, Independence Day: O Ressurgimento, vai pelo caminho do espetáculo. Não há dilemas muitos grandes (se bem que, impedir uma invasão alienígena é um dilema enorme). Os personagens não são explorados além do básico para rirmos ou nos empolgarmos com eles. E é ainda que eu vejo o primeiro problema: o filme tem muitos personagens.

Em todos os cursos de roteiro e escrita criativa que fiz na vida, a regra básica sempre é: use poucos personagens. Com poucos personagens, você consegue explorá-los melhor, acrescentar mais peso e veracidade a su personalidade. Independence Day peca nisso, já que possui mais de uma dezena de personagens principais, quase todos com a profundidade de um pires de leite.

Tanto que fica até difícil descobrir quem é o protagonista. A conclusão mais lógica é que seria David Levinson (Jeff Goldblum), um dos personagens mais divertidos dos dois filmes. Mas o destaque maior é dado para o tenente Jake Morrison (Liam Hemsworth), um piloto imaturo que trabalha na estação lunar – já que os humanos estão colonizando quase todo o Sistema Solar – e que namora Patricia Whitmore (Maika Monroe), a filha do ex-presidente Thomas J . Whitmore (Bill Pullman).

Jeff Goldblum e Bill Pullman reprisam seus papeis do longa original
Jeff Goldblum e Bill Pullman reprisam seus papeis do longa original

E se meu maior incentivo para assistir o original era a presença de Will Smith, neste ele não chega a fazer falta. A 20th Century Fox queria que ele estivesse no projeto, mas isso não aconteceu pelo valor do cachê cobrado pelo astro: US$ 50 milhões para estrelar em duas sequências. Então, para finalizar as negociações que vinham acontecendo desde 2009, o diretor Emmerich declarou:

“Will Smith não voltará, pois ele ficou muito caro. Metade do elenco será de pessoas que você conheceu no primeiro filme, e a outra metade serão novos personagens”.

Como solução para o dilema, Emmerich foi óbvio: o personagem de Smith foi morto num teste de uma nave que mistura tecnologia humana com alien e é tratado como um ídolo pela população. Um dos protagonistas do novo longa de 2016 é Dylan Hiller (Jesse T. Usher), filho de Steve Hiller (Will Smith), que se tornou piloto e agora segue com o legado do pai.

Liam Hemsworth como Jake Morrison, um dos muitos protagonistas
Liam Hemsworth como Jake Morrison, um dos muitos protagonistas

Uma coisa que você precisa ter em mente quando for assistir o filme é que ele foi feito do mesmo jeito que os filme eram feitos nos anos 90. Temos discursos motivadores, piadas sem noção, cenas com cachorros e destruição global. Isso pode ser um grande problema para algumas pessoas, mas para mim, é diversão garantida. Sai do cinema feliz e ansioso para a continuação, que fica evidente pela última cena. Isso se a bilheteria ajudar, é claro.

Pra finalizar, deixo claro que gostei do filme. Ele cumpre bem a promessa de te divertir por duas horas e tem poucos furos que realmente incomodam. E confesso que fiquei com uma leve impressão de que, se uma nova continuação surgir, há um grande risco de vermos Will Smith como estrela principal, já que sua morte é apenas citada e fica bem aberta. Ele poderia ter sobrevivido a queda e há centenas de teorias da conspiração para isso.

Mas… Assista sem preconceitos. Você vai gostar.

Base humana na Lua
Base humana na Lua

UM PEQUENO SPOILER

Um paralelo interessante, ainda mais considerando tudo que eu disse até agora, é que Independence Day: O Ressurgimento pode ser comparado com 2001: Uma Odisséia no Espaço

Tá, eu sei que você quer me matar pela afirmação, mas vamos as explicações. No longa, os humanos recebem a ajuda de uma misteriosa esfera branca que os alienígenas temem mais do que tudo. O objeto é um avançado “computador” para onde foi transferida a inteligência de uma raça extraterrestre inteira, que abandonou a existência orgânica há mil anos e que é a única em todo o universo capaz de derrotar os invasores.

No filme e, principalmente, nos livros da série Uma Odisseia no Espaço escritos por Arthur C. Clarke, somos apresentados a um enorme monólito negro que esteve presente em todos os momentos da evolução da raça humana. Seu papel é pouco explorado no filme de Stanley Kubrick, mas é explicado nos três últimos livros, onde ficamos sabendo que ele é um receptáculo para uma inteligência alienígena, transferida para dentro dele após essa raça avançar e abandonar a matéria orgânica.

Coincidência? Eu acho que não.


Veja o trailer de Independence Day: O Ressurgimento: