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    Blog do Matheus Prado

    Matheus Prado é professor universitário, jornalista, escritor e cineasta. Autor de quatro livros, ministra cursos sobre escrita criativa e storytelling.

    MOANA 2: uma nova jornada para explorar o desconhecido e redescobrir o próprio destino

    A continuação da jornada de Moana revela uma narrativa mais madura, que mergulha em temas como identidade, legado e a responsabilidade de liderar, enquanto mantém o encanto visual e emocional que cativou audiências no primeiro filme. O longa emociona, mas também desafia nossas próprias conexões com o passado, o presente e o futuro.

    Algumas histórias têm o poder de nos marcar profundamente. Eu me lembro claramente de quando assisti ao primeiro Moana: Um Mar de Aventuras pela primeira vez. Estava ao lado do meu pai, em uma sala de cinema cheia. A história daquela jovem que, corajosamente, enfrentava seus medos para encontrar sua identidade me tocou de um jeito inesperado.

    Dias depois, voltei ao cinema com minha esposa. Assistir ao filme pela segunda vez, ao lado dela, trouxe uma nova camada de significado: a jornada de Moana não era apenas uma aventura, mas uma busca profunda por pertencimento e propósito, algo que todos enfrentamos em diferentes fases da vida.

    Quase uma década depois, quando fui assistir a Moana 2, novamente algo mudou dentro de mim. Dessa vez, fui acompanhado de minha esposa e de nossa filha Virgínia, de 1 ano e 8 meses. Agora, como pai, percebi que meu lugar na história tinha mudado. Não era mais Moana que me representava. Era o pai dela.

    Moana 2 | Créditos: Disney

    Vi-me naquele homem que, mesmo temendo que sua filha atravessasse os recifes e enfrentasse os perigos além deles, sentia um orgulho imenso por tudo o que ela conquistava. Foi impossível não me emocionar ao perceber como a paternidade nos transforma, nos conecta com os desafios de nossos próprios pais e nos faz olhar para o futuro com uma mistura de ansiedade e esperança.

    Três anos depois da sua primeira aventura, o novo filme nos apresenta a protagonista em um papel mais maduro. Líder de sua tribo, Moana (Auli’i Cravalho) é convocada por seus ancestrais a encontrar a ilha perdida de Motufetu, cujo desaparecimento provocou uma maldição que ameaça sua terra natal. Ao lado de Maui (Dwayne Johnson) e de uma tripulação repleta de personagens novos, ela precisa enfrentar perigos que testam sua coragem, sua fé em si mesma e sua conexão com as tradições que jurou proteger.

    E se o primeiro filme era uma celebração da identidade individual, Moana 2 amplia a conversa, trazendo temas como legado, ancestralidade e a luta para equilibrar o peso do passado com a liberdade de construir algo novo. Nesse aspecto, o filme funciona como um lembrete de que nossas raízes não são âncoras, mas sim velas que nos ajudam a navegar.

    Moana 2 | Créditos: Disney

    O contexto cultural em que Moana 2 foi produzido é diferente do que encontramos no primeiro filme. Enquanto Moana (2016) marcou um passo significativo da Disney na representação de culturas fora do eixo ocidental, Moana 2 tenta expandir esse universo, mas sem o mesmo impacto.

    Há esforços genuínos para incluir novas tradições e mitologias polinésias, mas o roteiro, em alguns momentos, tropeça na tentativa de equilibrar autenticidade cultural e um apelo universal. E eu preciso confessar que, mesmo não sendo um grande fã dele, a ausência de Lin-Manuel Miranda na trilha sonora é sentida: as composições de Abigail Barlow e Emily Bear, embora agradáveis, não possuem a força necessária para capturar plenamente a essência dos momentos mais importantes. Não há nada que chegue perto da genialidade de Brilhe ou De Nada.

    O filme também enfrenta desafios narrativos. Originalmente concebido como uma série, o filme estranhamente carrega uma estrutura episódica, que muitas vezes prejudica a coesão da história. Isso não quer dizer que Moana 2 seja desprovido de emoção ou beleza. Pelo contrário, ele encontra momentos genuinamente tocantes, especialmente nas interações de Moana com seu pai e com sua jovem tripulação. Mas falta aquele senso de mágica ininterrupta que consagrou o original.

    Moana 2 | Créditos: Disney

    Há algo profundamente simbólico na busca de Moana por Motufetu. E aqui eu reforço novamente a minha ligação com o pai da protagonista, porque claramente me sinto como ele: hesitante em deixar minha filha enfrentar o mundo, mas cientes de que isso é necessário para que ela cresça.

    A ilha perdida funciona como uma metáfora para as partes de nós mesmos que precisamos redescobrir ao longo da vida. No entanto, o filme se limita a tocar superficialmente nessas questões, optando por resolver conflitos de maneira acelerada, sem permitir que a narrativa respire.

    Ainda assim, Moana 2 acerta em alguns pontos cruciais. A animação é espetacular, especialmente nas sequências marítimas. As águas cintilantes, os céus amplos e os detalhes das expressões dos personagens demonstram o domínio técnico da Disney que, até hoje, nenhum outro estúdio conseguiu igualar.

    Além disso, há um esforço notável em criar momentos visuais que ecoem a grandiosidade de Moana, como uma cena em que Moana e Maui enfrentam uma tempestade metafórica que parece traduzir seus próprios medos e dúvidas. Eu simplesmente amei essa parte.

    Moana 2 | Créditos: Disney

    Os novos personagens oferecem oportunidades interessantes, mas nem todos recebem o desenvolvimento necessário. Enquanto Maui continua sendo uma presença carismática, sua química com Moana parece menos espontânea desta vez. Entre os novatos, destaca-se Tama, uma navegadora experiente que questiona as decisões de Moana, forçando-a a crescer como líder. Mas outros membros da tripulação acabam ofuscados, servindo mais como alívio cômico do que como contribuintes reais para a trama.

    O clímax, embora emocionante, reforça a ideia de que Moana 2 é uma reflexão sobre o que deixamos para as próximas gerações. Como espectadores, somos levados a nos perguntar: estamos construindo um legado do qual podemos nos orgulhar? Estamos conectados às nossas raízes de forma que elas nos fortaleçam, e não nos prendam?

    Em última análise, Moana 2 é um filme sobre transformação. Para alguns, ele será um lembrete de suas próprias lutas por identidade e pertencimento. Para outros, será uma porta de entrada para conversas sobre legado e paternidade.

    E embora não atinja a profundidade emocional de seu antecessor, ele ainda é capaz de nos tocar. Para mim, como pai, foi impossível não me emocionar ao perceber que, assim como Moana, minha filha também enfrentará seus próprios recifes um dia. E, como o pai dela, estarei aqui, cheio de orgulho, esperando para vê-la voltar.

    Moana 2 | Créditos: Disney

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    direção
    atuação
    fotografia
    montagem
    roteiro

    Sobre a obra

    Três anos depois da sua primeira aventura, este novo filme nos apresenta a protagonista em um papel mais maduro. Líder de sua tribo, Moana (Auli'i Cravalho) é convocada por seus ancestrais a encontrar a ilha perdida de Motufetu, cujo desaparecimento provocou uma maldição que ameaça sua terra natal.

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