“Ninguém vai bater tão forte quanto a vida”. A frase é do filme Rocky Balboa, de 2006, mas pode muito bem ser aplicada a Nocaute, de 2015, longa de Antoine Fuqua, estrelado por Jake Gyllenhaal, tamanha a complexidade dos desafios enfrentados em ambos os filmes. Felizmente, o nome do protagonista é Hope. ^^
Vamos parar com as piadas idiotas e ir para a sinopse oficial:
Billy “The Great” Hope (Jake Gyllenhaal) é um lutador que trilha seu caminho rumo ao título de campeão enquanto enfrenta diversas tragédias em sua vida pessoal. Além das batalhas nos ringues, ele é forçado a lutar para conquistar o amor e o respeito de sua filha em uma busca por redenção.
Para não estragar a experiencia de quem ainda não viu, evitarei os spoilers ao máximo. Porém, nos últimos parágrafos, farei revelações importantes sobre a conclusão da trama. Se não quiser ler, pode ignorá-los sem nenhum problema. 😉
O Boxe como um reflexo da vida
Poucos esportes conseguem fazer tanta referência à vida quanto o Boxe. Muito provavelmente, é por isso que temos tantos filmes que o usam para ilustrar os desafios que enfrentamos diariamente. Isso já era muito claro em clássicos como Rocky: Um Lutador e Touro Indomável e se tornou escancarado agora, com Nocaute.
Acompanhamos a conturbada vida do lutador Billy “The Great” Hope (Gyllenhaal), que é um grande campeão, possuiu uma ótima equipe e uma esposa que não apenas o acompanha nas lutas, mas também cuida da sua vida no sentido literal, tomando todas as decisões importantes que ele simplesmente ignora. E, como não podia deixar de ser, logo entendemos que Hope é um completo idiota. Um “esquentadinho”, como dizíamos no colégio, ansioso por mostrar que é capaz de resolver tudo na porrada.
É justamente o seu comportamento complicado, sua necessidade de se provar sempre, que faz com que sua vida seja abalada por completo. Ele perde absolutamente tudo, da carreira até a família. É a partir desse momento que o filme se transforma e atinge seus pontos altos.
Gyllenhaal esta visivelmente empenhado e mostrar que sabe atuar. Ele dá tudo de si, tanto nas cenas extremamente verossímeis das lutas quanto nas partes mais profundas, quando seu personagem é acometido por uma das maiores dores que um marido pode sofrer. A tristeza fica estampada na tela e o filme, que num primeiro momento parecia um espetáculo Hollywoodiano se transforma numa simples exibição intimista.
Outro fato que merece destaque é a transformação física de Jake Gyllenhaal. Os músculos trincados não são algo que eu esperaria do protagonista de O Abutre, mas, como sempre dizem os críticos, bom ator é aquele que, a cada filme, se torna uma pessoa diferente. E os músculos só não impressionam mais do que as cenas no ringue. As sequências em que Billy Hope está lutando são inacreditáveis, de tão bem coreografadas. Fazem com que comecemos a roer as unhas de preocupação, torcendo para o personagem como se todos os golpes fossem de verdade.
Não podemos negar que há um forte sentimento americanista no roteiro. Americanista e cristão, mas isso não é um ponto negativo, é claro. Na pior parte de sua vida, Billy Hope chega ao extremo de ter que lavar privadas, o símbolo do fracasso na terra do Tio Sam. Ao mesmo tempo, encontra no treinador Tick Wils, muito bem interpretado por Forest Whitaker, uma espécie de guru espiritual, que o mantem no caminho do perdão, da fé e da superação dos obstáculos.
Infelizmente, considerando o que o filme representa, um de seus pontos fracos é a trilha sonora. Apesar de ser produzida pelo ótimo rapper Eminem e possuir boas músicas, não temos nada que chegue nem aos pés do trabalho de Bill Conti em Rocky, como a clássica Gonna Fly Now. Isso faz um pouco de falta em algumas cenas, principalmente na hora dos combates, mas também não chega a comprometer a experiencia.
Nocaute não foi um sucesso estrondoso, mas conseguiu triplicar o orçamento de US$ 25 milhões, arrecadando US$ 88,1 milhões no mundo todo. O Rotten Tomatoes classifica o longa com 59%, com base em 187 avaliações, uma média classificação de 6/10. A descrição do site diz:
Jake Gyllenhaal oferece um desempenho impressionante e comprometedor, mas Nocaute peca no drama cansativo e clichê.
Embora não seja completamente novo e revolucionário, eu não o acho tão clichê assim. É um ótimo divertimento e rende muitas emoções. A câmera tremida do diretor Antoine Fuqua, sempre a poucos centímetros do corpo e do rosto dos personagens, aliada a uma fotografia belíssima e acinzentada dão um toque especial ao longa. Uma mistura bem feita de tristeza diante dos constantes fracassos familiares de Billy, como esperança, nos momentos em que ele se ergue.
A PARTIR DAQUI, O TEXTO POSSUIU SPOILERS!
Embora seja um ótimo filme, tenho que confessar que Nocaute é previsível. Tem o final que torcemos o tempo todo, com o herói derrotando o pseudo-vilão. Uso esse termo porque não podemos culpar ninguém além do próprio Billy pela morte da sua esposa. Suas atitudes o levaram a isso, mas, mesmo assim, não conseguimos deixar de pensar que esse é justamente o final que ele deveria ter. Ele errou, sofreu por isso e depois superou.
A verdade é que, de certo modo, o fim não é importante, já que a caminhada vale mais do que o destino. Tanto que a luta mais aguardada e decisiva só se dá faltando 15 minutos para o fim do longa. Hope vence, reconquista o amor da filha, e nós deixamos algumas lágrimas rolarem. Tudo conforme o previsto.
Na verdade, prefiro dizer que não é o final que eu esperava, mas sim o final que eu merecia.
Veja o trailer do filme: