Depois de uma carreira longa e extremamente bem-sucedida, o ator Clinton Eastwood Jr. decidiu se dedicar mais ao mundo da direção do que o da atuação. Em 1971, Clint Eastwood, como é mais conhecido, fez sua estreia com Perversa Paixão, filme que conta a história de um homem que começa a ser perseguido por mulher psicótica, com quem teve um rápido caso numa noite.
O fato é que, como qualquer pessoa, Clint errou e acertou muitas vezes em suas escolhas, produzindo ótimas obras e outras não tão expressivas. Mas, conforme o tempo passava e a idade o alcançava, ele começou a ficar mais criterioso com as decisões e, nos últimos anos, produziu apenas clássicos. Gran Torino, Invictus e Sniper Americano são grandes exemplos disso. E agora, em 2016, somos surpreendidos com Sully: O Herói do Rio Hudson.
Mostrando o que precisa ser mostrado
O filme, protagonizado pelo carismático Tom Hanks, é uma aula de cinema para qualquer aspirante a cineasta. Clint sabe exatamente o que filmar e consegue criar um clássico com pouco mais de uma hora e meia de projeção, deixando o filme rápido, dinâmico e extremamente comovente.
Ele só filma o que é importante e digo isso porque, pela primeira vez, vi um filme sobre um desastre que se foca em outros aspectos além do próprio desastre. O importante é a história, suas consequências, e não o desastre em si. Não é uma obra sensacionalista, como é de praxe até mesmo em bons filmes, como O Impossível, de 2012.
Sully conta a história de Chesley “Sully” Sullenberger (Tom Hanks), um piloto que conseguiu pousar um avião em pane nas águas gélidas do Rio Hudson. Esse ato quase impossível salvou a vida dos 150 passageiros e alçou Sully à categoria de herói nacional. No entanto, nem mesmo a aclamação pública foi capaz de impedir uma investigação rigorosa sobre sua reputação e isso chegou ao ponto de ameaçar destruir sua carreira, criada ao longo de 40 anos como piloto.
A atuação apurada e contida de Tom Hanks, aliada a experiência de Clint e a sua necessidade de apresentar ao mundo uma história fantástica como ela realmente aconteceu, mostram de forma crua como uma vida praticamente perfeita por ser destruída por um “evento simples”. Em determinados momentos, Sully questiona se não seria melhor se o avião tivesse caído de fato e todos tivessem morrido.
Enquanto choramos a recente tragédia envolvendo o avião que transportava todo o time de Chapecó que, infelizmente, caiu e matou quase todos os envolvidos, Sully: O Herói do Rio Hudson surge como uma fagulha de esperança. O acidente, inclusive, foi responsável pelo adiamento da estreia do longa no Brasil, em respeito às vítimas e suas famílias.
Veja uma reportagem brasileira da época do acidente:
Os muitos lados do heroísmo
O filme segue a mesma linha de outra cinebiografia de sucesso, A Rede Social, de 2010. Se foca na investigação e volta até os eventos chave da trama através de flashbacks. Isso facilita o entendimento da história, já que, antes de tudo, somos contextualizados e só depois enxergamos o fato, através de mais de um ponto de vista.
Outro detalhe interessante está na luta interna vivida por Sully e Jeff Skiles (Aaron Eckhart), seu copiloto. Ambos acreditam que a decisão de pousar o avião no rio foi a correta, mas quando todas as provas apontam o contrário, muitos questionamentos surgem. Sully, em especial, que também era especialista em segurança e estava abrindo uma empresa sobre o assunto, se vê completamente perdido.
E o apoio popular, pois é tratado como herói em todo lugar que vai, também tem grande importância nessa confusão mental em que ele se encontra. A todo momento Sully se vê atormentado pela possibilidade (que ele tentar provar a si mesmo que evitou) do avião ter caído em uma área extremamente populosa da cidade de Nova Iorque.
Conclusão digna de um grande filme
As cenas finais do filme, embora não sejam completamente épicas, apelam completamente ao sentimentalismo e mostram como a experiência é válida em qualquer profissão. Isso pode ser visto de duas formas: Em Sully, defendendo com unhas e dentes as suas atitudes e em Clint Eastwood, mostrando como fazer cinema com talento, emoção e beleza.
A última vez que o acidente é apresentado (ele é visto três vezes, sobre óticas diferentes) é de cair o queixo, pelo seu nível de imersão. Também é didática, por mostrar de forma séria os procedimentos dos pilotos e da tripulação durante uma situação de risco.
O longa nos traz esperança. Nos mostra que bons profissionais no lugar certo, na hora certa, fazem toda a diferença. E que, por mais que os computadores sejam extremamente importantes nos dias de hoje, ainda precisamos confiar nos seres humanos. A humanidade é capaz de grandes feitos. E grandes feitos merecem ser compartilhados. Se for pelas lentes do Clint Eastwood, melhor ainda.
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Veja o trailer de Sully: O Herói do Rio Hudson: