Meu nome é Amanda Zimmermann e hoje vou falar sobre o documentário Lenita (2023), dirigido por Dácio Pinheiro. Assisti esse filme com exclusividade para fazer essa crítica para o portal cinemagem.
E o primeiro ponto que preciso destacar é que o documentário me ajudou a descobrir a história da Lenita Perroy, porque, até então eu não conhecia nada sobre ela. Essa parte foi muito bem construída e a vida dela era muito interessante e foi muito bem representada.
A filmagem aborda de forma não apenas a vida pessoal, mas também a carreia de Lenita e toda sua criatividade, bem como a busca por ser excepcional ao que ela se propunha a fazer. Com grandes nomes como Glória Kalil, Vera Fisher e José Gayegos, o documentário faz homenagem a vida da artista, carregando os expectadores para dentro do universo de Lenita.
Como uma pessoa que ama moda, uma das coisas que mais me chamou a atenção foi o estilo de editorial que ela produzia para as fotos e para os ensaios. É algo que muita gente, incluindo eu, comenta que faz falta na moda.
Antigamente, para o pessoal que fazia parte da fotografia de moda, as criações eram muito mais compostas do que elas são hoje. E eu até entendo que isso pode ter um pouco de associação, por exemplo, com a História e com a Arquitetura, que a gente tende a procurar linhas mais retilíneas, que se mantêm mais no contemporâneo. Linhas mais retilíneas, tons mais claros, menos estampas… Tudo mais simples.
Não vemos mais essas misturas de materiais, essa experimentação. Tudo para poder manter uma ideia de contemporaneidade. E pode ser que isso funcione muito bem na arquitetura, mas dentro da moda, a ideia que me surge é que os editoriais estão ficando sem graça.
Antigamente as modelos se entregavam e se expressavam muito mais nos editoriais. Hoje em dia, isso não é mais exigindo delas. E nos trabalhos da Lenita, vemos que ela nem sempre usava modelos. Muitas vezes, ela preferia usar pessoas que ela conhecia, que trabalhavam no meio dela, mas que não eram modelos. Pessoas que normalmente estavam por trás das câmeras. Mas, como ela tinha uma visão muito boa, sabia usar e trabalhar essas pessoas de formas de uma forma diferente, para que o material funcionasse.
Tanto que uma das partes que eu mais gostei do documentário foi quando ele mostra como ela sabia representar as mulheres das fotos e das pinturas dela, a partir de uma visão que era totalmente única e original. E isso ia desde a construção do cabelo, da maquiagem, da roupa, até as escolhas das posturas. A pessoa podia não ter nada a ver com aquele estilo, mas ela sabia criar um personagem daquela pessoa em frente às câmeras, que atendesse bem ao que ela precisava. Todas as fotos da Lenita tinham muito conceito.
A fotografia do filme também me ajudou a mergulhar no mundo da fotógrafa. Há partes em que vemos algumas colagens para apresentar as fotos, com pequenos textos de manchetes que saíram quando as foram exibidas. Todas as vezes que isso aparecia, eu pausava pra ler tudo que estava escrito, porque eu queria entender.
Talvez eu realmente quisesse que o filme tivesse uma visão mais artística e menos documental da vida dela, algo mais conceitual. Uma visão um pouco mais fotográfica, por assim dizer. Não que a fotografia do documentário seja ruim, mas eu esperava algo mais estilizado, em se tratando da vida de uma fotógrafa tão criativa. Talvez não necessariamente no documentário inteiro, mas em momentos específicos com ela.
Até mesmo nos créditos finais, quando vemos imagens de Lenita, senti falta de coisas mais contemporâneas. Ela morreu em 2018, e a gente vê muita coisa do trabalho dela anterior. Eu queria saber mais sobre os últimos anos.
E é aí que eu acrescento um ponto negativo que me afetou um pouco: o fato de a obra não deixar claro como a vida de Lenita se encerrou. Como eu não a conhecia, queria saber o que tinha acontecido com ela. Pesquisei na internet e não encontrei nada além do fato de que ela morreu em 2018. Eu queria entender como é que ela morreu, como a sua história se encerrou e como ela fechou o ciclo, por assim dizer.
O documentário vai além da figura da profissional, mostrando um pouco da sua vida pessoal. Nesse aspecto, vemos o casamento de Lenita, enquanto a trama levanta dúvidas sobre como nós encaramos esse tipo de relação. Se num primeiro momento ela era louca de paixão pelo marido, depois disso, passa a se questionar se isso é o suficiente para manter esse tipo de relação.
Outro detalhe que merece destaque são as várias facetas de Lenita. Em um momento, vemos que “do nada” (não é necessariamente do nada, já que ela tinha seus motivos), ela decidiu largar tudo para criar cavalos. E depois disso, ela vira a braba da criação dos cavalos! Esse fato é absurdo, porque mostra como ela era empenha em obstinada com tudo o que se propunha a fazer. E isso era para além da fotografia.
Dirigido pelo premiado cineasta Dácio Pinheiro (Meu Amigo Claudia), e produzido pela Gore Produtora Cinematográfica, o filme revela a história de Lenita Perroy, uma mulher que viveu à frente do seu tempo e dedicou parte de sua história à busca pela beleza, através de sua esquecida coleção de fotografias de moda e seus filmes.
A produção estreia na 47ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, no dia 27 de outubro, às 21h55, no Espaço Itaú de Cinema – Frei Caneca 2.