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    Grandes estúdios de Hollywood monetizam trailers falsos criados com inteligência artificial

    Estúdios como Warner, Sony e Paramount evitam derrubar vídeos e até monetizam trailers falsos de seus filmes; SAG-AFTRA critica tendência como ameaça à criatividade e aos direitos dos artistas.

    Um trailer sombrio de Superman começa: David Corenswet sangra com um ferimento no peito, enquanto Lex Luthor (Nicholas Hoult) observa. Supergirl, vivida por Milly Alcock, surge no céu. Luthor diz em um tom ameaçador:

    Eles não são daqui… e nunca serão.

    A música cresce, o logo da DC aparece. Mas tudo isso é falso.

    Esse trailer é apenas mais um entre milhares de vídeos forjados com inteligência artificial que inundam o YouTube com montagens que misturam imagens reais e cenas geradas por IA. Muitos desses vídeos são indistinguíveis dos verdadeiros para o público médio — como o caso em que a TV pública francesa exibiu um trailer falso de Superman como se fosse oficial, meses antes do lançamento de qualquer material oficial. Na época, até o diretor James Gunn reagiu com repulsa: três emojis de vômito.

    Apesar disso, a Deadline revelou que estúdios como Warner Bros. Discovery, Sony Pictures e Paramount vêm lucrando com esses conteúdos. Ao invés de derrubar os trailers falsos por violação de direitos autorais, eles pedem ao YouTube que a receita de anúncios gerada seja redirecionada a eles, uma atitude que o sindicato SAG-AFTRA classificou como “corrida para o fundo do poço”.

    Uma indústria paralela

    Vídeos de trailers falsos existem desde os primórdios do YouTube, em 2005. Um dos primeiros virais foi Titanic 2: Jack’s Back, em que Leonardo DiCaprio é ressuscitado em Nova York. O vídeo somou 53 milhões de visualizações antes de ser derrubado. Seu criador, o australiano VJ4rawr2, é considerado um dos pioneiros do formato, e transformou o hobby em profissão, com mais de 393 milhões de views acumulados.

    Nos últimos anos, o avanço da IA transformou a produção de trailers falsos em um negócio lucrativo e altamente competitivo. Canais como Screen Culture, comandado por Nikhil “Nick” Chaudhari em Pune, na Índia, passaram a usar ferramentas como Midjourney, Leonardo e ElevenLabs para gerar imagens e narrações. Com 1,4 bilhão de visualizações e mais de 1,4 milhão de inscritos, o canal se tornou um dos mais influentes da nova era de vídeos falsos.

    Chaudhari afirma que seu objetivo é criar trailers “o mais próximos possível dos oficiais”, focando em franquias reais e futuros lançamentos.

    Em 2023, o canal produziu 23 versões diferentes de Quarteto Fantástico: Primeiros Passos, conseguindo superar o trailer oficial da Marvel nos resultados de busca do YouTube. A mesma tática foi usada com Thunderbolts e Missão: Impossível – O Acerto Final, sempre aproveitando o algoritmo da plataforma para ganhar destaque.

    Monetizam, mas não comentam

    O Deadline teve acesso a e-mails que mostram como estúdios como Warner, Sony e Paramount monetizam esses trailers com IA, transformando o conteúdo pirata em lucro. A Warner, por exemplo, lucrou com trailers falsos de Superman e A Casa do Dragão.

    A Sony fez o mesmo com conteúdos de Homem-Aranha e Kraven: O Caçador, e a Paramount monetizou um trailer falso de Gladiador II.

    Apesar de faturarem com os vídeos, todos os estúdios mencionados se recusaram a comentar. O mesmo vale para a Disney, que raramente age contra o canal Screen Culture, embora seja uma das principais fontes de inspiração dos vídeos do canal.

    Para o sindicato SAG-AFTRA, a prática é preocupante. Em comunicado, a entidade disse:

    Monetizar usos não autorizados e subestimados de propriedade intelectual humana é uma corrida para o fundo do poço. Isso incentiva ganhos de curto prazo às custas do esforço criativo duradouro.

    O impacto para o público

    Enquanto os criadores defendem seus vídeos como uma forma de entretenimento ou “promoção antecipada” dos filmes, críticos alertam que a proliferação de trailers falsos pode comprometer a credibilidade do marketing oficial e confundir espectadores. Muitos vídeos sequer informam claramente que são produções não oficiais. Chaudhari defende o formato, dizendo que “não há mal nenhum”.

    Além disso, o uso de imagens sexualizadas geradas por IA — como um exemplo citado de Divertida Mente 3 com uma versão adulta e hipersexualizada de Riley Andersen — levanta preocupações éticas. Mesmo com essas polêmicas, apenas cerca de 10% dos vídeos do Screen Culture recebem reivindicações de direitos autorais.

    Com bilhões de visualizações, influenciadores como Chaudhari continuam se aproveitando da zona cinzenta entre paródia, fandom e pirataria. Em um momento em que trailers se tornaram parte vital do marketing de filmes, os estúdios parecem ignorar o impacto potencial da “fábrica de falsos” movida por IA.

    Enquanto isso, criadores independentes lucram imitando super-heróis e blockbusters — e nem mesmo o Superman está a salvo da inteligência artificial.

    Fonte:Deadline

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    Matheus Prado
    Matheus Pradohttps://matheusprado.com.br/
    Matheus Prado é cineasta, escritor, crítico de cinema e professor universitário. Acredita que a vida é um mar profundo e que devemos nos aventurar além da superfície. Escreveu e dirigiu dois longas-metragens e vários curtas.

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