Esse texto é um oferecimento do Indico Filmes e Séries e é especial para aquelas pessoas que adoram dedicar um pouquinho do seu tempo para o entretenimento, mas querem ter certeza de que não vão cair em uma cilada e assistir o filme ou a série errado para o seu perfil.

A gente sabe que gosto é algo muito pessoal e merece ser respeitado, então não seria legal contar com alguma ajudinha de quem entende do assunto na hora de escolher o que ver? Pois então, a partir de hoje, você vai encontrar aqui toda semana uma indicação amiga, que além de trazer breves informações sobre a produção, te dá os principais motivos pra quebrar com a famosa dúvida do “será que vale a pena ver?”. Com as dicas da Rafa Gomes não tem erro!


Na minha época da escola não tinha nome e era bem comum. 

Fazer piada sobre as características dos outros era absolutamente normal e pra alguns, te tornava até mais “resistente”.

O tempo passou, as circunstâncias mudaram e o mundo aprendeu que assédio moral, independente de seu contexto ou de quem o comete, não pode ser tratado como uma simples brincadeira de mal gosto.

A dica de hoje leva a temática do bullying a outros níveis de compreensão. Tirando Hollywood e a audiência de sua zona de conforto, ela cutuca uma ferida aberta que permanece latente e choca por usar a ficção como instrumento para discussões reais, que precisam ser perpetuadas.

Você deve estar acompanhando a repercussão que a produção gerou, mas deixe-me dizer porque todos precisamos assistir ’13 Reasons Why’.

Título: 13 Reasons Why
Elenco: Dylan Minnette, Katherine Langford, Kate Walsh, Christian Navarro
Emissora: Netflix
Número de temporadas: 1
Disponível na Netflix


Sinopse relâmpago: A série gira em torno de Clay Jensen, um estudante tímido do ensino médio, que encontra uma caixa na porta de sua casa. Ao abri-la, ele descobre que a caixa contém sete fitas cassete gravadas pela falecida Hannah Baker, sua colega que cometeu suicídio recentemente. Inicialmente, as fitas foram enviadas para um colega, com instruções para passá-las de um estudante para outro. Nas fitas, Hannah explica para treze pessoas como eles desempenharam um papel na sua morte, apresentando treze motivos que explicam porque ela se matou. 


Vale a pena por que: É como uma mão áspera que pressiona o pescoço, sufocando não apenas a respiração, mas levando consigo pensamentos, ideais, proposições e objetivos, deixando o mais absoluto vazio. É a morte do eu, que definhou lentamente a cada novo aperto dessa mesma mão. Mas também é a vida exterior, que persiste cambaleante em meio a já anunciada morte. O bullying é essa dimensão soberba conflituosa entre o querer e o ser, o que deveria ser e o que é. Híbrida, formada pelo ódio gratuito e pela proteção do ego em troca de mais ego, essa agressão é uma das formas de violência mais brutais. Ela separa as juntas e medulas da alma. Deixa o físico intacto, mas apodrece o emocional. Ela é a consumação absoluta entregue em ’13 Reasons Why’.

Bullying é um termo que entrou para a convivência mundial muito tempo depois de seu fadigado uso nos Estados Unidos. As escolas brasileiras abordaram a expressão pela primeira vez em meados de 2006. No entanto, bullying é bullying desde sempre. Desde muito antes qualquer um de nós cogitarmos julgar alguém por sua aparência ou por uma fofoca maldosamente compartilhada. Mas em ’13 Reasons Why’, o assunto que mais tem sido explanado nos corredores das escolas (mas que erroneamente é pouco trazido para o ambiente profissional) ganha formas, espectros, olhares, lágrimas. Se abstendo de qualquer efeito suavizador ou delicado, a nova série original da Netflix é o doloroso tapa na cara que deixa marcas e traz o debate que deveria ter sido iniciado há mais de 20 anos atrás: quem se responsabiliza pelo suicídio de uma vítima de agressão moral?
Ao narrar a morte anunciada de Hannah Baker, uma estudante que teve seu corpo e sua integridade vulgarizada em benefício do ego adolescente, a Netflix adentra um universo escuso e pouco abordado com precisão. Usando a arte como instrumento documental, não de fatos específicos, mas sim de realidades que permeiam o mundo todo, a plataforma de streaming sai da zona de conforto que o próprio gênero criou e conta o relato honesto sobre uma dor que existe e as consequências de afugenta-la por tempo demais. Muito mais que trazer os casos pela ótica de uma jovem que cedeu à solidão plena do suicídio, a nova série se desmembra dentro de seu próprio universo, salientando a penumbra que a agressão moral, verbal e física acarretam em todos aqueles que propositalmente ou não se tornam cúmplices e testemunhas da dor alheia.

O roteiro de ’13 Reasons Why’ se destaca dentre outras produções sobre bullying, pois destrincha o ambiente estudantil de forma crua e sagaz. Sem final feliz e tragicamente clara nos primeiros cinco minutos do episódio piloto, a narrativa não mede esforços em medir o imensurável, atraindo seu público para os átrios mais profundos que a dor da rejeição, causada pela agressão moral, causa.  A necessidade em mesclar a narração em primeira pessoa com a onisciente proporciona essa imersão, nos ajudando a ver além do suicídio, contemplando também os efeitos que ele gera naqueles que cercam a vítima.

Com uma fotografia onde a claridade do dia se contrapõe ao negrume da alma atormentada pelo abuso moral, ’13 Reasons Why’ vai até as últimas consequências, trazendo os “seis degraus de separação”, que aplicada e didaticamente mostram todos os estágios e seus respectivos elementos que levam uma pessoa a cometer o suicídio. Novamente sem adocicar a trama, a produção choca a audiência por fazer dela expectadores oniscientes da tragédia que muitos passaram a vida inteira desconversando. Encenada ou não, a dramatiza realidade atordoante que a sucessão dos abusos traz à história é latente e escrachada nas telas. Ela escorre a sede pela perversidade, em meio às lágrimas inerentes ao terror apresentado.

Com qualidade empírica e ótimas atuações de um elenco majoritariamente novato, ’13 Reasons Why’ é o prenúncio de uma era que trará a franqueza para o cerne das conversas entre amigos e dos almoços familiares. Ao suscitar o debate sobre suicídio e bullying em níveis altíssimos, a série já atua como divisor de águas, instigando os desconfortáveis diálogos que precisam ser abordados. Com o intuito de promover a cura pelo entretenimento, a Netflix inaugura um subgênero no universo televisivo, onde a arte não quer imitar a vida, mas quem sabe, ajuda-la a se regenerar gradativamente. Precisa mesmo de 13 motivos para assistir?