A maioria dos diretores possuem altos e baixos. Alguns poucos, preservam-se ao máximo para aceitar apenas projetos de qualidade indubitável. Curtis Hanson teve sua carreira marcada por filmes ótimos e outros não tão bons. “Wonder Boys” de 2000, foi com certeza um dos picos altos.
O professor Tripp (Michael Douglas) é um homem de muitos problemas: Tem um caso com a reitora da universidade, sua esposa acabou de deixá-lo e é assombrado a cada segundo pela responsabilidade de continuar escrevendo livros memoráveis. Há sete anos, Tripp escrevera um sucesso de vendas, e desde lá, nenhuma nova obra saiu. O que deixa seu editor, Terry Crabtree (Robert Downey Jr.) em um bocado de apuros também.
Ele ministra workshops de escrita para alunos ambiciosos que me fizeram lembrar dos colegas que fiz no curso de Direito, não pelo falso senso de genialidade ou pelo envolvimento nas atividades universitárias, mas pelo fato de também enxergarem o mundo de maneira distorcida. É um erro que o jovem precisa viver, e essa metamorfose é captada muito bem no filme.
Na festa que precede o festival “Wordfest” é quando o filme começa. Do lado de fora, James Leer (Tobey Mcguire), um brilhante escritor, está segurando uma arma no meio do nada. O professor Tripp chama-o para entrar e ver uma linda jaqueta que pertenceu a Marilyn Monroe, guardada em um cofre digital e propriedade do dono da casa. Esse convite termina com um cachorro morto com dois tiros no peito, choro nostálgico, roubo de colecionáveis e um monólogo de Mcguire, ditando vários nomes de pessoas famosas que se mataram.
Acompanhamos após, o dilema da vida de Tripp e a sua relação com seus alunos, ex-esposa e amante (que está grávida). Hannah Green (Katie Holmes) é a primeira a por as mãos no livro inacabável de Tripp. Ela mora com Grady, em um quarto alugado na sua casa. A sua atração pelo professor Tripp é levada por todo filme como algo escancarado, na cara. Hannah tem uma admiração enorme quanto ao trabalho de Grady, mas folheando pelo manuscrito do professor ela percebe que o próprio não fez o que sempre pedia a seus alunos para fazer: Todo escritor precisa fazer escolhas, e o livro de Tripp, com mais de duas mil páginas e altos níveis de descrições desnecessárias como “genealogia de todos os cavalos e os seus históricos dentais” parece ter um final cada vez mais longe. E ela sugere que talvez isso se deva ao fato de escrever sobre influência de maconha (Sim, escritores parecem usar muita maconha nesse filme).
Quanto ao problemático James Leer, ele tem uma obra pronta. “The Love Parade” é um livro que chama a atenção do editor de Grady, e do próprio professor. Leer é um talento nato, mas sua vida está completamente desequilibrada emocionalmente. Grady, então, faz o seu possível para instruir o seu aluno para dentro do mundo editorial, com cuidado. Terry está ferrado em Nova Iorque, sem publicar um sucesso há anos, e “The Love Parade” pode ser a chave para voltar a estabilidade profissional.
Wonder Boys é um filme escrito por Steven Kloves (Harry Potter, O Espetacular Homem Aranha, The Fabulous Baker Boys) e ao contrário do professor Grady, ele fez escolhas no seu roteiro: Contar com maestria uma história sobre uma semana em um Campus que poderia ser no qual você estuda. Onde todos os personagens são interdependentes e altamente instáveis.
O final desse filme expira um contagiante sentimento de autoaceitação, mas ao mesmo tempo, um inquietamento sobre as coisas que você pode ser ou poderia ter sido. É um filme sobre livros, carros roubados, maconha, sucesso e fracasso. No entanto, é maior do que isso. Wonder Boys é um filme sobre escolhas, seja em livros ou nos relacionamentos.
