No fim de dezembro, todos nós buscamos algum objetivo para o próximo ano, seja ele material ou não. Sendo assim, corremos contra o tempo, o que faz desconectarmos o corpo da mente. Portanto, quando observamos Marina na sua invasão ao senso crítico comum, nos hipnotizamos.
Sabemos que, para compreender a nossa cultura, a raiz deve ser exposta e explorada, mas não daquela velha maneira “litoral” e desgastante, pelo contrário, uma maneira que seja exploradora e possua estética única – e é exatamente isso que Espaço Além: Marina Abramović e o Brasil (2016) faz: a desconstrução de imagem.
Há exatamente um mês, Marina Abramović, uma das artistas contemporâneas mais importantes do mundo, completou 70 anos. Isso mesmo, 70. Por essa razão, é cativante a disposição da artista e quanto ela se doa, emocionalmente e fisicamente, para o documentário.
O documentário é a trajetória da performer pelos lugares mais místicos que ainda preservam a visão primitiva e espiritual do ser humano. É extraordinário a pluralidade de crenças que o nosso país passa em 86 minutos. Marina, em seu registro etnográfico, narra os momentos mais íntimos de sua vida, e instantaneamente, a empatia aflora.
Embora algumas cenas propositalmente migram para o vídeo arte, a fotografia é bela, crua e intensa. O diretor Marco Del Fiol, que já possui uma certa experiência em documentários no ramo artístico, admite que quis mostrar o maior “espectro de cores” da artista para que o documentário não ficasse tão restrito a Marina idealizada, performer.
A linda direção de Del Fiol tende a um caminho autêntico e extremamente emotivo, o que nos leva a sermos vulneráveis na jornada existencialista de Marina como se fosse a nossa.
Admito, depois de Espaço Além: Marina Abramović e o Brasil, me sinto como uma estrangeira no meu próprio território.
